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O Clube de Regatas Vasco da Gama foi fundado em 1898 na região portuária do Rio de Janeiro por jovens brasileiros e portugueses, pequenos comerciantes e trabalhadores assalariados.

Desde seus primeiros tempos, o Vasco ficou marcado pela diversidade e pelo pioneirismo, pelo enfrentamento à xenofobia do anti-lusitanismo e à segregação social e racial de um país recém saído da escravidão.

Em 1904, apenas 16 anos após a abolição, o Vasco é o primeiro clube esportivo do Brasil a eleger um presidente negro: Cândido José de Araújo (no centro da foto, à primeira fileira).

É sob a gestão de Cândido, reeleito no ano seguinte, que o clube chega à sua primeira vitória esportiva: o campeonato carioca de remo de 1905.

Com Cândido José de Araújo, o Vasco já afirmava o seu destino: ser um clube marcado pelas vitórias e pelo enfrentamento ao racismo.

Em 1915, com a fusão com o Lusitânia, o Vasco começa no futebol, a nova febre popular. Desde sempre, o clube não impôs barreira social ou racial para seus jogadores, algo que era comum nos clubes aristocráticos - e racistas!.. - da época. No Vasco, não. Um time mestiço.

Em 1919, o Vasco trouxe reforços de times amadores e clubes da Liga Suburbana. Do Engenho de Dentro vieram uns quantos. Entre eles, um goleiro ágil. Na foto, atrás de todos, quase escondido, está Nelson da Conceição, que viria a ser um dos primeiros ídolos e símbolos do Vasco.

Pele negra retinta e semblante orgulhoso, assim vemos Nelson nos registros da época. Seria em breve reconhecido como o melhor de sua posição, o 1o. negro convocado para a seleção carioca e para a seleção brasileira. Mas parte da cidade nunca lhe deu o respeito que merecia.

Talvez Nelson fosse pobre demais, e negro demais. Os jornais o menosprezavam por sua origem e sua maneira simples de falar. O alcunharam de "Chauffeur", em referência pejorativa à sua profissão de motorista. Mas ainda pior faziam os torcedores.

Conta Mario Filho:

"(...) o torcedor se justificava dizendo que pagara entrada. Pagara e tinha o direito de fazer o que bem entendesse, principalmente com Nelson Conceição, um mulato com cara de macaco, metido a keeper argentino, com um boné na cabeça. Boné era para branco."

"Ia defender uma bola, seu isso, seu aquilo. Com a torcida do Fluminense atrás, azucrinando-lhe. Os sócios mais dispostos largavam as cadeiras, preferiam ficar debaixo do sol, na arquibancada, atrás de Nelson Conceição. Assim tinham mais liberdade de descompor o preto."

"Acabado o half-time, mudavam de gol. Quando Nelson Conceição voltava, achando que estava livre deles, eles o desiludiam logo. O estádio era do Fluminense, o sócio do Fluminense podia mudar de lugar, assistir ao jogo de um lado no primeiro half-time e do outro no segundo."

Fato é que, antes de encarar a elite carioca, Nelson foi pilar fundamental de uma potência que nascia. Ele não estava só.

Início da década de 1920. Estava formado o time mestiço e suburbano do Vasco da Gama, que marcaria para sempre o futebol brasileiro. Eram os Camisas Negras.