Insinuar que os manifestantes chilenos estão corretos apenas porque organizam protestos é tão coerente quanto assumir que o MBL tinha razão sobre a esquerda brasileira pelo simples fato de comandar protestos ainda maiores, com mais de 1 milhão de pessoas, contra ela.
Protestos são instrumentos legítimos numa democracia - mas não são argumentos finais. Os coletes amarelos que tacaram fogo há poucos meses em Paris não provaram o fracasso da economia europeia. O mesmo vale para o Chile.
Um país deve ser analisado pelos seus dados socioeconômicos. IDH, renda, índice de pobreza, violência, infraestrutura, saneamento básico. Um governo deve ser avaliado pela sua evolução nesses dados. Não há como tratar política pública de outra forma. Grito não é argumento.
Não bastasse, questionar o modelo chileno é necessariamente fazer oposição ao Partido Socialista do Chile, que comandou o país por 14 dos últimos 19 anos, sem alterar a estrutura econômica do "neoliberalismo". A esquerda governou o Chile em 75% do tempo das últimas duas décadas.
Além disso, não rola defender o modelo econômico português e protestar contra o chileno ignorando que o IDH do Chile é o mesmo de Portugal. Portugal é um país colonizador europeu com séculos de história. Chile é um país colonizado com poucas décadas de desenvolvimento.
O Chile tem problemas, claro - como qualquer país. E a desigualdade, a sétima da região, é um deles. Mas não dá pra jogar o bebê fora com a água do banho. Um pobre chileno vive melhor que um pobre de qualquer outro lugar na América Latina. Não dá pra ignorar essa informação.
Na América Latina, o Chile é oficialmente o país mais seguro, o que possui maior renda e menor pobreza, o que tem maior desenvolvimento humano, acesso a saneamento básico e melhor educação.
Nada disso é opinião.
Se o modelo chileno fracassou, o que dirá dos demais?
Nada disso é opinião.
Se o modelo chileno fracassou, o que dirá dos demais?
