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Recentemente eu tive a ideia – ingênua, admito – de aceitar todas as pessoas que me adicionavam no Facebook. O objetivo era usá-lo de forma estritamente profissional. O raciocínio parecia bom, se eu não tivesse esquecido de um pequeno detalhe. Fio abaixo 👇
Nós, mulheres, não temos liberdade para tomar decisões, nem mesmo sobre como vamos usar nossas redes sociais. Explico: eu escrevo reportagens sobre fatos que acontecem no Norte e Nordeste do Brasil e quero que meu trabalho alcance as pessoas que moram nessas regiões.
Empiricamente, acredito que meu público-alvo não está no espaço elitizado do Twitter. Seria através do Facebook, portanto, que um texto como esse poderia ser visto por mais pessoas fora da minha bolha. theintercept.com/2019/05/07/cor…
Pensando nisso coloquei um plano em prática. Não pedi para adicionar ninguém, mas passei a aceitar todos os convites que chegavam a mim no Facebook.
Poderia ter estranhado de imediato o número massivo que homens que pediam para ser adicionados, mas a ficha só caiu um pouco mais tarde, quando começaram a chegar as notificações no Messenger.
O machismo esfregou na minha cara que eu jamais poderia usar meu próprio Facebook profissionalmente e fez eu me arrepender da decisão que tinha tomado. Fez até, imagine só, eu me sentir culpada por ter aceitado aquelas pessoas.
Ao final do dia, havia 31 mensagens de homens diferentes e vários comentários em fotos antigas. Independente do conteúdo, eu só conseguia traduzir tudo em uma única frase: ‘se você me aceitou no seu Facebook, é porque está disponível para receber minhas cantadas’.
Exceto, claro, se eu já tiver algum dono. Somente nesse caso eu mereço um pedido de desculpas pelo incômodo.
Me pergunto se esses caras achavam mesmo que eu ia correndo adicioná-los nos WhatsApp e lhes mandar nudes loucamente. Tive até vontade de perguntar se isso já funcionou alguma vez.
Nesse mesmo dia desabafei com umas amigas e fiquei chocada quando uma delas me disse que já tinha recebido foto de um homem nu, no vaso sanitário. Hoje ela não abre mais o Messenger e, por isso, se receber alguma mensagem realmente importante por lá, não vai nem ver.
Claro que isso tudo é um grande “white problem people” comparado aos demais problemas que as mulheres enfrentam com o machismo, principalmente as mais pobres, como bem mostra essa thread que li ontem.
Mas o assédio nas redes sociais é só uma amostra do quanto, de formas diferentes, não somos livres. A algumas de nós, negam os documentos, a escolaridade, a independência financeira.
A outras, negam o direito de usar as próprias redes sociais profissionalmente, pelo simples fato de que fica insuportável lidar com essas cantadas inconvenientes, desrespeitosas ou até mesmo agressivas.
Tenho certeza de que os homens não passam por esse tipo de aborrecimento. MaChIsMo NãO ExIsTe, né?
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