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A educação brasileira está no fundo do poço? É uma calamidade? Péra lá! O discurso de terra arrasada só interessa aos que apresentam soluções mágicas e aos que vinculam “resultados horríveis” a inimigos políticos de hoje e de ontem. Vamos falar de alfabetização? Vem >
Como se trata de tema amplo e complexo, não pretendo aqui exaurir todas variáveis que podemos considerar para avaliar a qualidade da educação. Farei apenas alguns apontamentos relativos a alfabetização nos anos iniciais do ensino fundamental. 2/n
O usual para aferir qualidade no âmbito educacional é o uso das avaliações em larga escala. No caso da alfabetização o Brasil tem a ANA (Avaliação Nacional de Alfabetização). Quem acompanha políticas educacionais sabe dos limites das avaliações em grande escala. 3/n
No caso da ANA, por exemplo, não conseguimos acessar em seu dados elementos sobre a prática pedagógica, métodos e outros fatores ligados ao clima escolar, as redes de ensino e aos docentes que possam influenciar os processos de ensino-aprendizagem. 4/n
É muito importante que isso fique claro, é comum acompanharmos a atribuição de culpa pelos problemas educacionais à escola, à professores e às práticas pedagógicas empregadas. Avaliações em grande escala como IDEB, PISA, ANA não nos dão evidências para afirmar nada disso. 5/n
Outra ressalva: resultados de avaliações em grande escala tendem, salvo exceções, a reproduzir desigualdades socioeconômicas. É consensual na literatura que a condição socieconômica dos estudantes é determinante em seus rendimentos escolares e na aquisição da aprendizagem. 6/n
Portanto, os resultados de alfabetização que, por vezes, informam manchetes alarmistas, advêm sempre de resultados de avaliações em larga escala cujos desenhos não permitem análises qualitativas de fôlego. Muito temos para avançar em pesquisas nesse campo. 7/n
Uso como base nesse fio um artigo publicado recentemente por pesquisadores do INEP utilizando os dados da ANA, nesse caderno, a partir da página 57. Eles os cruzam com indicadores socioeconômicos e de adequação da formação docente. Vale a leitura. 8/n portal.inep.gov.br/informacao-da-…
Em um primeiro momento eles fazem a apresentação descritiva dos resultados da ANA 2016 para leitura e matemática, tomando como critério os referenciais curriculares e as políticas vigentes na época da aplicação das provas. 9/n
O índice de crianças do 3° ano do ensino fundamental com resultado insuficiente é de 22%. Nessa metodologia está se considerando com nível suficiente em leitura os que estão no nível 2 e 3 numa escala de quatro níveis em que o 1 é insuficiente e o 4 é desejável. 10/n
Na apresentação do MEC da ANA a interpretação dos dados é diferente. Aponta-se o nível 2 como insuficiente em leitura também, o que eleva esse índice para 54% ao invés de 22%. Na imagem abaixo se nota que o nível 2 em leitura é considerado básico. 11/n
No artigo que estou usando de base, as autoras Fabiana de Assis Alves (Doutora em Economia) e Ticiane Bombassaro Marassi (Doutora em Educação), pesquisadoras do INEP, explicam teórica e metodologicamente porque consideram o nível 2 como suficiente. Leia. 12/n
Quando olhamos para os resultados regionais identificamos as disparidades entre o norte e o nordeste e as demais regiões. Aqui o nível socioeconômicos mostra o seu peso. 13/n
Quando se faz o cruzamento (imagem abaixo) dos resultados da ANA com o nível socioeconômicos das escolas, conseguimos identificar a associação positiva entre maior nível socieconômico e melhor desempenho na avaliação. 14/n
No trabalho citado há outros inúmeros cruzamentos, todos corroboram com a perspectiva de que o nível socioeconômico, escolarização dos pais e ambiente familiar culturalmente estimulante são variáveis decisivas no processos de alfabetização e na aprendizagem como um todo. 15/n
Isso não significa que outros fatores ligados ao clima escolar não possam incidir sobre a aprendizagem. Há exemplos de redes que conseguem dirimir as desigualdades prévias dos alunos e garantir aprendizagem dos mais pobres, os casos de Sobral e do Ceará. 16/n
Temos muito a avançar no que tange a alfabetização, mas quando olhamos os resultados (22% insuficientes em leitura) e também o IDEB, notamos avanços nos últimos anos. Em 2007, 28% das crianças do 5º ano tinham aprendizado adequado em português, em 2017, já eram 60%. 17/n
O trabalho no qual me embaso traz nas conclusões que “o que se verifica é que se parte de um diagnóstico exagerado de analfabetismo no Brasil, tomando por base uma classificação parcialmente equivocada das escalas da ANA (2016)”. 18/n
O texto ampliado desse fio está nesse link: link.medium.com/4IMv9roir3 Fim.
Como comento no texto completo, a lacuna de aprendizagem que mais chama atenção é em matemática (desafio nacional urgente), infelizmente a nova Política Nacional de Alfabetização não trata essa questão com a devida atenção.
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