CARNAVAL: É viável cancelá-lo a bem da higiene e ordem pública? De jeito nenhum. Não se cancela "o" carnaval porque ninguém oficializou "o" carnaval.
Carnaval é bom para o turismo? Tenho sérias dúvidas. À atividade carnavalesca corresponde a inatividade em "n" setores. E, dentre as mil manifestações em mil lugares, não vejo tantas que atraiam o tipo CERTO de turistas estrangeiros.
O carnaval é lucrativo? Não dá para calcular. A cadeia econômica do carnaval é amplamente benéfica à habitual máfia lavadora de dinheiro, que, se investe na festa, deixa ao poder público o prejuízo dos efeitos colaterais.
O carnaval de rua é uma reação natural ao elitismo dos bailes e sambódromos? Depende do conceito de "elitismo". As ruas têm donos; são rigorosamente loteadas, o ano inteiro, entre forças ocultas. Tente VOCÊ montar seu bloquinho e sair à rua sem beijar as mãos certas.
Em todo caso, os bailes de carnaval foram amplamente derrubados: desprestígio e falência de muitos clubes, revoada da Zelite para a Bahia, remoção de obstáculos morais-sociais à atividade das profissionais do sexo.
As escolas de samba, comandadas por bicheiros tão socialmente responsáveis, seguem fazendo o de sempre: "vendem" os ingressos todos para turistas através das agências aliadas e o ~encalhe~ é distribuído aos favelados.
Todo mundo fecha os olhos para esse esquema financeiro-populista porque... bem, carnaval é cultura, carnaval é povo, carnaval traz turistas, carnaval etc etc etc.
O neobloquismo carnavalesco é todo filho da Banda de Ipanema, um bando de comunas pinguços fazendo (aí, sim) apropriação cultural das festas espontâneas do povinho.
Nos anos 80 o conceito cresceu muito como reação a tudo aquilo que o povinho enxergava do carnaval: Sambódromo engaiolado, orgias caligulescas em bailes caros, ascensão da Bahia como carnaval mais quente e divertido.
Nota: nem todos os turistas estrangeiros vêm cheios da grana. O que há muito é turista mais-ou-menos que se sente rico porque as drogas são baratas. Ou eram.
