Estampo a reportagem na @exame sobre a atual demanda de devs no mercado brasileiro. Estou feliz? Demais! Trabalho há 20anos com isso e eh um sonho antigo estar numa reportagem falando sobre coisas que acredito. Mas eh importante falar de também das tretas 
Para que 1 parágrafo saísse nessa reportagem, foram 3 horas de conversa explicando o contexto, o histórico e o posicionamento atual que estamos vendo no mercado, mas no final, quem escreve a história tem seu próprio posicionamento (não existe imparcialidade no jornalismo)
Não existe controle por parte de nenhuma das pessoas que aparecem ali. Expliquei minha posição em outra thread e em artigo, vale ler. Mas o fato é real: existe uma imensa demanda, poucas oportunidades pra quem está começando, e uma pressão de crescimento (“Unicorn flow”) no BR
O sensacionalismo que a reportagem criou tem objetivo claro de esquentar o conteúdo, e gerar o buzz que estamos vendo acontecer. Mas eu estou interessado em conversas mais profundas a respeito da bolha: tecnologia pode mudar vidas.
A catástrofe de Saúde mental atual não é mérito ou consequência da TI: eh a realidade do sistema em que vivemos. Todo mundo está doente, não só quem vara a noite pra fazer deploy. O campo de batalha não é a ti - eh a nossa abordagem geral.
A insatisfação com TI eh reflexo da insatisfação com o sistema que nos organizamos. Vi pessoas criando uma hierarquia de sofrimento que não faz sentido: fica aí sofrendo sem emprego sendo advogado e esquece TI que eh ruim demais por aqui. Absurdo!
Você acredita que a pessoa na correria trabalhando no sol pra ganhar 300 por mês não está frustrada? Não está sobrecarregada? Claro que sim! E não é possível usar e ensinar tecnologia para essas pessoas e possibilitar uma nova perspectiva de vida? Porra!
Vamos discutir modelos de organização que sejam positivos mentalmente? Vamos focar em usar tecnologia para transformar vidas? Vamos ampliar a presença e representação de pessoas em TI? Vamos discutir de qual demanda estamos falando? Vamos discutir o capitalismo?
Aprender a programar eh desafiador? Sim! Mas esqueçam todo esse gatekeeping de dizer que é “difícil demais” pra evitar que qualquer um venha pro nosso mercado! Isso pra mim é subestimar a capacidade das pessoas. É preciso ser pragmático com a nossa indústria:
A grandiosa parte do trabalho de tecnologia no brasil é de configuração de plataforma, e não de inovação. Além disso, a maior parte dos projetos é CRUD e nós acreditamos que estamos produzindo microcontroladores pra robôs em petroleiros submarinos. E ainda assim não tem gente!
A reportagem não foi levada pra esse lado (apesar do meu protesto quando soube do que seria), mas ainda sim é possível usar isso a seu favor no trabalho: provavelmente agora o seu diretor que não acredita em programas de formação vai te ouvir. Eles acreditam em tudo que lêem 😉
Também indiquei algumas pessoas para serem entrevistadas que fugissem do padrão farialimers, por acreditar ser um momento importante. Depois do fiasco com a capa dos unicórnios, ele tinham uma preocupação real com isso. Representatividade na reportagem foi uma baita vitória
Enfim, imagino que é frustrante o hype de uma reportagem quando estamos presos a um ambiente ruim, quando enxergamos nenhuma saída, ou quando o sistema nos obriga a aceitar um ambiente merda pra sobreviver. Mas como liderança, eu acredito que é meu dever tentar mudar isso.
Se no momento de aquecimento do mercado com conseguirmos afetar positivamente nossa indústria, vamos esperar o crash pra fazer isso? Acredito que não...
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