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É um absurdo que José Padilha vá narrar a história de Marielle, o que chega a ser um perigo, uma vez que o impacto da obra dele, diretamente ou nas colateralidades, ajudou a construir o imaginário que tornou Bolsonaro possível (1/10).
Padilha é só um filho da elite carioca que construiu a estética e a subjetividade do Bolsonarismo, ao elevar a figura da polícia como o arquétipo de instituição e a violência como linguagem maior (2/10).
Já dizia à época de Tropa de Elite: havia ali muito do mainstream de Hollywood, sobretudo dos tempos dos enlatados de ação da era Reagan nos anos 1980 (3/10).
A Santíssima Trindade desse tipo de filme é (1) a violência como linguagem; (2) o apagamento do erotismo dos corpos, no máximo aparecendo como fetichizações; (3) o encobrimento da exploração social. Está tudo lá em Padilha e na Tropa de Elite (4/10).
Existe ainda uma outra pegadinha narrativa em Tropa de Elite: a milícia e a polícia são duas instâncias separadas e antagônicas, sendo a primeira uma derivação da corrupção da política, como se qualquer relação da polícia com ela fosse no máximo acidental (5/10).
O que um menino da elite do Rio como Padilha queria nos convencer era de uma farsa. Na vida real, uma figura como o Capitão Nascimento só poderia ser um miliciano (6/10).
Tudo isso para construir uma narrativa que romantizasse a associação de tropas de elites cariocas, milícias e quetais na repressão, quando o Rio ia bem não por isso, mas porque crescíamos e distribuíamos renda na década de 2000 (7/10).
Ainda havia um outro elemento em Tropa de Elite: a simples invisibilização do imperialismo. Isso tudo torna Padilha o oposto do Kleber Mendonça por Bacurau - mas não só, em Som ao Redor, KMF lança um olhar oposto sobre a lógica miliciana (8/10).
Muita gente reclamou da violência de Bacurau, mas notem: lá é a violência autonômica dos povos que lutam pela libertação -- enquanto a violência de Tropa de Elite é da polícia romantizada, que mata e tortura performando a pura anomia (9/10).
Quem apertou o gatilho que matou Marielle foi um Capitão Nascimento real, não o da metafarsa de Padilha, um puro anticristo -- lembrando, ainda, que em Narcos, Padilha conseguiu o combo de fazer um elogio a Pinochet e romantizar o DEA numa mesma obra (10/10).
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