Hoje, com o lance das comemorações dos jogadores da Suíça, a Copa do Mundo mais uma vez dá os braços com a política. E isso não é coisa nova. Aliás, tem uma história bem foda com a seleção da Áustria, que vale a pena ser contada.
No começo dos anos 30, quando a Copa ainda era um bebê, a seleção da Áustria era a maior do mundo. O time era conhecido como “Time Maravilha” e foi um dos precursores do Futebol Total da Holanda dos anos 70. 
Mas vamos lá: a Áustria começa a Copa de 34 despachando a França e depois a Hungria. Aí veio a semifinal com a Itália, dona da casa: 1 x 0 para a Itália. Mas aí começa o rolo: a Copa era na Itália e Mussolini queria o título de qualquer maneira.
Então, tem boatos de que ele teria jantado com o trio de arbitragem e membros da FIFA na véspera da partida, para “bater papo sobre futebol”. E... bem, dizem que o gol italiano (na foto) não teria sido 100% legal. Resultado: Áustria fora.
Quatro anos depois, uma nova chance, na Copa de 1938. A Áustria, classificada, enfrentaria a Suécia na primeira fase... Mas o jogo nunca aconteceu porque, meses antes da Copa, o país foi anexado pela Alemanha Nazista.
O resultado é que a seleção austríaca deixou de existir e a Suécia passou de fase sem precisar jogar. Mas o mais escabroso aí é o próprio fim da seleção austríaca, porque vários jogadores foram “convidados” (aspas bem grandes) para defender a Alemanha.
E aí precisamos falar de Matthias Sindelar, o grande astro da seleção austríaca. Esse cara tinha nascido na Tchecoslováquia mas se mudou para Viena quando moleque (quando tudo isso ainda era o Império Austro-Húngaro, que desapareceu no fim da I Guerra).
Sindelar começou a "aprontar" num amistoso com a Alemanha que funcionou como “despedida” da seleção austríaca. O combinado era que o jogo terminasse empatado, mas Sindelar não se aguentou e fez um gol. A Áustria ganhou por 2 x 0. Os nazistas ficaram putos.
Na Copa de 38, Sindelar se recusou a jogar pela Alemanha, dando várias desculpas. Idade, machucados... A questão não era só política, porque Sindelar achava o time alemão retranqueiro demais.
Resultado? A Copa ficou sem o craque (a Alemanha foi eliminada na primeira fase pela Suíça – a foto abaixo é do jogo). E, no ano seguinte, pouco após o início da II Guerra Mundial, Sindelar foi encontrado morto com sua noiva.
A causa oficial foi que eles morreram envenenados por CO2 – o que era comum na época – e aparentemente a história colou, porque não teve um protesto (por outro lado, dificilmente alguém protestaria num território dominado por nazistas).
Mas claro que teve gente que suspeitou de algo errado nessa morte repetina – e isso ficou ainda mais forte quando descobriram que Sindelar era observado de perto pela Gestapo, a polícia nazista, por ter tendências socialistas e ser “pró-judeu”.
E, a essa altura, a Itália já era bicampeã, tendo vencido a Copa de 38 – diz a lenda que os italianos receberam bilhetes estilo “ou ganha, ou morre”, do Mussolini antes da final contra a Hungria.
Então, é meio bizarro, porque o mundo ficou sem Copa entre 38 e 50 por causa da II Guerra. Mas em 1934 o fascismo e o nazismo já estavam interferindo com o que rolava no campo. Por bem ou por mal, a Copa sempre esteve de mãos dadas com a política.
