Thread by @Savagefiction

Anos após o cristianismo construir teorias racistas para validar a escravidão um americano se tornou pai do maior movimento evangélico no mundo, o pentecostal. Sua história ajuda a entender como por que algumas igrejas da Assembléia de Deus perpetua o racismo ainda hoje

Essa história começa com Charles Fox Parham, que em 1895 rompeu com a Igreja Metodista e iniciou o seu próprio ministério, tendo a bíblia como o único livro didático. Seus alunos se concentravam nos Atos dos Apóstolos que narra os eventos de pentecostes

Essa passagem é sobre a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus Cristo, que teriam falando em várias línguas e recebido a inspiração para profetizarem e evangelizarem pelo mundo.

Em sua escola dominical havia outro grande nome do movimento pentecostal, William Joseph Seymour, responsável por outro evento histórico evangélico, o avivamento da rua Azusa. Por ser negro, nunca foi autorizado a entrar na escola, ouvia tudo do corredor.

Em 1901 Parham levou alguns alunos para uma turnê pelos EUA que atraíam inúmeras pessoas para suas pregações sobre o poder da cura do espírito santo. Vale ressaltar que eles acreditavam que estava “falando em línguas” reais como o Mandarim chinês e o Hindi na Índia

Porém não era apenas o evangelho que Charles Fox Parham queria levar ao mundo, ele era um supremacista militante. Daqueles que mantinha relações estreitas com a Ku Klux Klan, pregando várias vezes em manifestações e reuniões desse grupo que perseguia e linchava e afro americanos

Em seus livros ele declarava que apenas aqueles fisicamente descendentes de Abraão ( que ele identifica como a raça ariana) poderia pertencer à Igreja. Por isso se tornou rival e difamador de William Joseph Seymour. Utilizou as passagens bíblicas para construir seu racismo

Ele também professava sua crença de que Caim se casou com uma mulher de uma criação pré-Adâmica: “Assim começou o lamentável casamento entre as raças, causa pela qual o dilúvio foi enviado em punição” - para Parham a mistura de raças contrariava os planos de Deus

Noé teria sido escolhido por Deus, graças a sua pureza racial, “um pedigree sem sangue misto, um descendente linear de Adão”, descrito em seu livro Everlasting Gospel. A pureza de sangue e raça já era explorado por cristão racistas desde o século XVII.

Parham chamava os integracionistas de "amantes de crioulos" e seus sermões sobre moral eram só fachada, em 1906 surgiram várias alegações de má conduta sexual, que o levou a condenação por sodomia, porém sua influência com a KKK facilitou a libertação de imediato

Dizem que quando morreu, pediu para não ser enterrado em algum lugar que um preto tivesse pisado. Após sua morte seu movimento se fundiu com outros pentecostais, criando o Conselho Geral das Assembléias de Deus nos Estados Unidos da América (que se espalhou pelo mundo).

A segregação que havia criado se perpetuou por um longo período. Em 1915 porta-voz oficial da Assembléia de Deus, Weekly Evangel , publicou artigo defendendo que a divisão na AD era parte do plano de Deus para garantir pureza ”e“ preservar a integridade das raças ”

Apesar de absorver várias tradições e rituais africanos em seu culto, além de atrair a maior parte dos negros brasileiros, ainda se discute no Brasil a supressão da identidade negra e o ódio à herança africana presente na Assembléia de Deus.
revistacult.uol.com.br/home/violencia…

Em 1995 os líderes de 21 grupos pentecostais brancos reuniram-se em Memphis se reuniram para reconhecer o racismo histórico e trabalhar para reparar e integrar as igrejas, onde algumas ainda encontravam-se 80% segregadas.
christianitytoday.com/ct/1994/decemb…

No Brasil em 2011 o pastor de uma das Assembléias de Deus, Marcos Felicianos causou polêmica ao utilizar o mito da Maldição de Cam, da teologia racista que serviu para justificar a escravidão após os primeiros navios chegarem na europa com africanos.
extra.globo.com/noticias/relig…

Mais informações aqui (inglês) O legado duvidoso de Charles Parham academia.edu/10825872/The_D…