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Além das Sombras @AlemD4sSombras
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O jornalista norte-americano @willcarless, publicou esse artigo de opinião no Washington Post e nos autorizou a publicar na íntegra aqui no Além das Sombras. É grande, mas importantíssimo que a gente leia do começo ao fim:
A VERSÃO BRASILEIRA DE TRUMP FAZ TRUMP PARECER UM APRESENTADOR DE PROGRAMA INFANTIL - Por @willcarless
O candidato presidencial Jair Bolsonaro trouxe com ele uma onda de discursos de ódio e violência política como há décadas não se vê no Brasil.
RIO DE JANEIRO - No início deste mês, Julyanna Barbosa, uma mulher transexual e ex-vocalista de uma banda pop brasileira, atravessava uma ponte no bairro de Nova Iguaçu, no norte do Rio de Janeiro, quando um grupo de homens se aproximou dela.
“Olha o tamanho do viado", os agressores supostamente gritaram, referindo-se a Jair Bolsonaro, o favorito na corrida presidencial do Brasil. "Bolsonaro tem que ganhar para tirar esses lixos da rua".
Os homens começaram a espancar Barbosa com os punhos e uma barra de ferro até ela cair, sangrando. Moradores locais a levaram para o hospital.
Alguns dias depois, estudantes da Universidade de São Paulo acordaram e descobriram que seus dormitórios haviam sido vandalizados com suásticas durante a noite. "Volta para a Bolívia", era o rabisco escrito ao lado dos símbolos nazistas.
Em todo o Brasil, histórias semelhantes se desdobraram nas últimas semanas. Houve dezenas de denúncias de crimes de ódio contra afro-brasileiros e a comunidade gay. Jornalistas viraram alvos apenas por fazer o seu trabalho.
Multidões ameaçaram equipes de TV e entoavam “comunistas” em referência às equipes. Um repórter em Pernambuco foi esfaqueado por um homem usando uma camiseta de Bolsonaro.
Eu testemunhei este show de horror se desdobrar em uma posição única. Nos últimos dois anos eu cobri o ódio e o extremismo que se desenrolaram nos Estados Unidos desde a eleição do presidente Donald Trump.
Por mais de 18 meses, escrevi um boletim semanal chamado Relatório do Ódio, detalhando os crimes de ódio nos Estados Unidos – a ascensão da alt-right e dos anti-semitas, ameaças e grafites e, é claro, as pichações, rabiscos e até a suásticas inflamadas com fogo.
Eu fiz isso trabalhando remotamente de um apartamento no Rio de Janeiro, não muito longe de onde Bolsonaro tem uma casa à beira-mar.
A ascensão do ex-pára-quedista do exército a candidato marginal favorito para se tornar o próximo presidente do Brasil, é claro, foi comparada à ascensão de Trump de estrela de reality show à Casa Branca.
Mas Bolsonaro faz Trump parecer Mister Rogers (Fred Rogers era um apresentador norte-americano de um programa infantil de TV para crianças em idade pré-escolar).
Um político misógino e cheio de ódio, ele disse, entre outras coisas, que preferia que um de seus filhos morresse a ser gay. Zombou de uma colega congressista, dizendo-lhe duas vezes (uma vez no plenário do congresso) que ela “não merecia” ser estuprada.
Ele dedicou seu voto favorável ao impeachment da primeira mulher presidente do Brasil, Dilma Rousseff, ao coronel que dirigia a unidade que torturou Rousseff e muitos outros durante a ditadura militar do país.
Como se não bastasse, Bolsonaro gosta de dizer que apoiou a ditadura, que teve seu fim em 1985, lamentando apenas que os esquadrões da morte não tivessem matado dezenas de milhares de pessoas a mais.
Assim que Bolsonaro subiu nas pesquisas, e especialmente depois que ele ganhou a primeira rodada de votação em 7 de outubro, ele conduziu com ele uma onda de discurso de ódio e violência política como há décadas não são vistos no Brasil.
Mas para um americano que vive no Brasil e que pesquisa violência extremista, tudo isso é muito familiar. As últimas notícias por aqui lembram os meses que antecederam e seguiram a eleição de Trump.
No ano passado, passei semanas cantando a bola de vítimas de ataques de ódio e discurso de ódio, nos quais os agressores mencionaram especificamente Trump – dedicando sua violência, anti-semitismo, islamofobia e homofobia a um presidente que acreditavam apoiar suas ações.
O coletivo de jornalismo investigativo brasileiro Agência Pública já compilou uma lista de pelo menos 50 ataques realizados em todo o Brasil por partidários de Bolsonaro. E ele nem é presidente ainda.
"É claro que tivemos crimes de ódio antes, mas acho que esta é a primeira vez que isso está ligado à política e à onda política que está acontecendo", me contou esta semana o cientista político Maurício Santoro, que mora no Rio.
“Eu acho que há muitas coisas em comum com o que aconteceu nos Estados Unidos – não as mesmas organizações políticas, mas o mesmo clima político, os mesmos sentimentos de raiva, ódio e polarização (...)
(...) E eu acho que os resultados serão os mesmos aqui no Brasil – um aumento nos crimes de ódio e no discurso do ódio”.
O Brasil também viu um rápido aumento na popularidade do site de mídia social alt-right Gab. O site, que se orgulha de permitir que as pessoas vomitem causticidade e racismo...
...tornou-se o principal destino para os expoentes da supremacia branca americana que foram expulsos do Twitter e do Facebook por seus pontos de vista.
A brasileira Gab, que representa o segundo maior número de membros depois dos EUA, de acordo com a Alexa.com, está inundada de partidários de Bolsonaro.
O Brasil, é claro, é muito diferente dos EUA. Mais de 50% dos brasileiros se identificam como não brancos e, como Santoro colocou, “mesmo aqueles que são brancos, a maioria não se vê como branca - quase todo mundo é mestiço."
Mas no Brasil o racismo ainda é uma pústula, e Bolsonaro tem aproveitado esses ressentimentos antigos mantidos pelas classes branca e média alta do país.
Ele atacou os direitos indígenas, dizendo que vai abrir a Amazônia para uma exploração ainda maior, permitindo a mineração em terras indígenas.
Ele prometeu reduzir as cotas, e disse no início deste ano que os afro-brasileiros não tem qualquer dívida para cobrar pelos anos de escravidão do Brasil. (Aproximadamente 10 vezes mais escravos foram trazidos para o Brasil do que para o que são hoje os Estados Unidos.)
E, o ponto crucial: Bolsonaro prometeu abrir guerra contra as favelas brasileiras, bairros pobres que são esmagadoramente povoados por não-brancos e onde a maior parte da violência policial já acontece.
"Eu vou dar carta branca à polícia para matar", ele disse. "Policiais que matam bandidos serão condecorados."
e Trump foi além dos assobios políticos para os seus partidários, Bolsonaro usa um megafone - ambos enviando sinais claros de que não há problema em expressar ódio e raiva contra seus vizinhos e pessoas que não se parecem com eles ou não têm a mesma identidade sexual.
Mas – e é realmente extraordinário escrever isso –, onde Trump exibiu momentos ocasionais de embaraço pelas ações que surgiram de suas palavras, Bolsonaro parece se deliciar...
...em dizer qualquer coisa que incentive ainda mais os brasileiros contaminados com ódio a ferir, mutilar e matar seus oponentes.
em dizer qualquer coisa que incentive ainda mais os brasileiros contaminados com ódio a ferir, mutilar e matar seus oponentes.
Como os americanos descobriram, as explosões de raiva do seu chefe de Estado aumentaram vertiginosamente as estatísticas de crimes de ódio e batalhas sangrentas lideradas por jovens revoltados que tentam impressionar seu presidente.
No Brasil, que registrou um recorde de 64.000 homicídios em 2017, as palavras de Bolsonaro servirão para despejar gasolina em um incêndio que já está ardendo fora de controle.
Link para o texto original no @washingtonpost: goo.gl/b2QNnt
Você também pode compartilhar nossa tradução do texto do @willcarless no Facebook: goo.gl/wys3hH
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