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1) Um fiozinho sobre o aniversariante, Karl Marx (a maioria das informações são baseadas na biografia do Marx escrita pelo jornalista Francis Wheen - que se não é a mais completa, é a mais divertida):
2) Nascido em Trier, em 5 de maio de 1818, o jovem Karl era do signo de Touro e, segundo um mapa astral consultado na internet, sua Lua também era em Touro. Ou seja, materialista até o talo.

Aquele ascendente em Aquário servia como contraponto dialético ao materialismo do moço.
3) Deixando o marxismo esotérico de lado, o pequeno Marx era filho de pais judeus - embora o pai tenha se convertido ao protestantismo para poder trabalhar como advogado. Marx era o 3º de 9 filhos, mas em 1819 ele se tornou o filho mais velho - os outros não sobreviveram.
4) Seu pai, profissional liberal típico do séc. XIX, cara letrado, insistiu que Karl fosse fazer direito, na Universidade de Bonn. Mas como naquela época, só tinha balbúrdia na universidade, Marx se encantou pela filosofia...e pelos bares da cidade alemã.
5) Irritado com o filho, o pai mandou ele para a Universidade de Berlim, tomar jeito na vida. Nessa época, o pai também viu o filho relapso arranjar um noivado com Jenny von Vestphalen, amiga de infância de Karl - e com o título de baronesa.
6) Indo para Berlim, rapidamente Marx pegou gosto pela tal da filosofia e lá conheceu os hegelianos, os jovens discípulos do recém falecido Georg Hegel. Mas também rolava muita bebedeira, muita poesia e até umas farras com burros (o animal!!!). Em resumo, balbúrdia e orgia!
7) Quando Marx defendeu sua tese doutoral, em 1841 "Diferença entre a filosofia da natureza de Demócrito e Epicuro", já se cogitava que ele podia seguir uma carreira acadêmica. Contudo, o conteúdo materialista e as posições ateístas de Marx lhe prejudicaram.
8) Perseguido pelos professores, o jeito foi submeter a tese para a Universidade de Jena e, junto com amigos hegelianos, foi pra Colônia fundar um jornal, a "Gazeta Renana". Só que em pouco tempo o jornal caiu no radar da censura.
9) Depois de um artigo metendo pau no czar Nicolau I, da Rússia, os principais editores foram presos e Marx fugiu para Paris, levando consigo sua amada Jenny. E lá em Paris eles tiveram uma filhinha - mas Marx não conseguia emprego de nada.
10) Vivendo de bar em bar, Marx conseguia frilas como jornalista, mas a grana era pouca. Acaso ou não, muitos imigrantes alemães se encontraram em Paris nessa época - e Marx encontrou o melhor possível, o jovem playboy e socialista, Friedrich Engels.
11) Num dos primeiros encontros, Engels mostrou para Marx seu livro "A situação de vida da classe trabalhadora na Inglaterra", escrito em 1844. Embora não fosse um primor de filosofia, a força da ideia de Engels era de que o trabalhador industrial era uma potência moderna.
12) Engels e Marx se engajaram numa leitura hegeliana mais dura e, nessa época, Marx já anunciava rupturas com os antigos amigues hegelianos. "Tudo bundão", teria dito Marx, numa noite de bebedeira.
13) A ruptura veio numa série de ensaios que Engels procurava encontrar editoras para publicar. O grosso deles se encontra na "Ideologia Alemã", um conjunto esparsos de textos e que marcam a ruptura de Marx com os hegelianos de esquerda. Ela só foi publicada em 1932.
14) Em 1845, o bagulho azedou na França e Marx teve que fugir para Bruxelas. Junto com a esposa e a filha, também chamada Jenny, Marx iniciou uma nova atuação - agora como militante político. Engels levou Marx para a Inglaterra, conhecer associações operárias e os cartistas.
15) Nessa época, Marx faz uma conversão na defesa das organizações operárias em formação e entra numa das mais famosas da época, a Liga dos Justos. Seu talento com as palavras faz com que ele seja chamado para escrever o manifesto dos caras.
16) Nessa mesma época, Marx trava uma disputa interna para defender a necessidade de radicalismo na luta operária, fazendo o chamado a uma revolução. Ela muda de nome: se torna Liga dos Comunistas. E em 1848, Marx e Engels lançam o manifesto. O famoso Manifesto Comunista.
17) Marx tinha um talento enorme para fazer inimigos, é bem verdade, mas ninguém pode negar sua devoção à nova causa. Em 1848, com a Primavera dos Povos estourando, Marx pegou a herança que recebeu de seu pai e torrou tudo para comprar armas para operários na Bélgica.
18) Sem dúvida, Marx era perdulário. Na década de 1850, numa das inúmeras cartas que trocou com a sua mãe pedindo dinheiro, recebeu da velha a seguinte resposta: "Eu preferia que meu filho parasse de teorizar sobre o capital e passasse a ganhar algum".
19) Era perdulário também nos gastos com a família. Não foram poucos biógrafos que condenaram o fato de a família Marx viver em constante dívida, mas ter um piano de cauda em casa, ou tão logo Marx recebesse por algum trabalho, fazer piqueniques com os filhos.
20) Sua atuação como revolucionário e intelectual era errática, difícil de ser disciplinado. Engels atuou, por muito tempo, tentando disciplinar o amigo. O maior esforço dessa disciplina acabou sendo o Livro 1, de O Capital, escrito entre 1859 e 1867.
21) Oito anos? Pois é. Marx sempre alegava pro Engels que tinha que ajustar a forma, afinal, era pra ser um texto que todo operário pudesse ler, ele precisava ser claro e erudito ao mesmo tempo. Quantos adiantamentos não foram pedidos pra sair esse livro!
22) Ao mesmo tempo, sem grana, Marx se metia em bicos - e brigas - que atrapalhavam o trabalho central. Constantemente estimulado, o sujeito não parava. Embora diminuísse a bebida, sempre estava fumando charutos e o tempo sentado gerou uma série de dores, reumatismos e afins.
23) Tem outras histórias ainda que valem a pena serem citadas: a famosa história do filho da empregada, por exemplo. Ao que tudo indica, é verdade, ele acabou dormindo com a empregada, numa noite de bebedeira. Disso teria resultado um filho que Engels acabou adotando..
24) ...num ato de devoção ao amigo, para limpar a barra de macho. Que mesmo sendo Marx, convenhamos, era macho.

E esse não é o único vacilo.
25) Ao longo de sua vida, Marx era um intelectual europeu do século XIX. Embora no final da vida se mostrasse cada vez mais interessado no estudo de sociedades pré-capitalistas, Marx via muitos povos com o olhar de superioridade típico da intelectualidade europeia.
26) Tem registrados casos de preconceito com irlandeses, poloneses, húngaros, mas também com negros (africanos ou americanos) e - em especial - com indianos. Marx ainda carregava uma base hegeliana consigo, na qual entendia que a diferença era um "pré-estágio" ao universal.
27) Somente no final da vida, Marx começa a reconsiderar alguns dos seus apontamentos e revê suas posições a partir da emergência de lutas em vários rincões do mundo contra o capital.
28) Segundo Mary Gabriel, a relação de Marx com Jenny se manteve estável até o fim. A gente pode até pensar que uma vida de privação - e um filho ilegítimo - pode ter piorado as coisas. Mas a verdade é que a noção de feminilidade que Jenny abraçara já desafiava as normas.
29) Casou com um pobretão, teve 3 filhas, trabalhava como tradutora, editora e escritora. Segurava a bebedeira do marido, mas também disciplinava ele. Dentro dos limites da época, Jenny enfrentou o que era possível por um homem que ela amava e admirava.
30) Marx sofreu muitas perdas na vida - 3 filhos morreram muito cedo. Mudava-se constantemente, sempre ameaçado por censura ou prisão. Ainda assim, procurou organizar a luta dos trabalhadores incessantemente entre 1845 até o fim da vida.
31) Seu talento para fazer inimizades gerou lutas políticas com o início do movimento anarquista na Europa. Mas diante da Comuna de Paris, em 1871, entendeu que a aliança dos trabalhadores deveria superar as cisões de seus líderes.
32) É uma figura supercomplexa no âmbito pessoal. No âmbito teórico, ainda mais. Suas contribuições para as ciências humanas são inenarráveis e para a política do século XX e XXI, temos a impressão de que nem arranhamos ainda.
33) Francis Wheen compara Marx com um personagem da novela de Balzac, o pintor de "A obra desconhecida". Na novela, o sujeito promete que vai fazer um quadro surpreendente. O tempo passa e ele não consegue terminar, o quadro vai ficando cada vez mais complexo.
34) Quando ele finalmente termina, ele chama os amigos, depois de gerar tanta expectativa. Mas quando eles se deparam com a obra, ela é confusa, toda cheia de riscos, sem forma definida...
35) Wheen nos diz que é uma boa metáfora. O pintor de Balzac fez, em pleno século XIX, uma obra abstrata. Mas ela era tão vanguardista para o seu tempo que nem ela e nem o próprio pintor poderiam compreender.
36) Enfim, teria muito mais para falar de Marx - e certamente MUITO mais para falar de suas contribuições teóricas. Mas por hoje chega, hoje é dia de beber uma pelo velhinho!

Feliz aniversário, Mouro!
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