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#60Jogos60Copas: a história de 60 jogos marcantes da Libertadores no ano em que ela chega a 60 edições. Hoje, um dos episódios mais aguardados da série: voltamos a 24 de abril de 2003, à noite em que o Paysandu foi à Bombonera arrancar uma vitória contra o Boca de Bianchi.
Em parceria com o @punterobr, o #60Jogos60Copas recorda algumas das partidas simbólicas da Libertadores ao longo deste 2019 - além de serem SIGNIFICATIVAS, elas não podem ter sido finais. Aqui, mais da série:
Ainda hoje o único clube do Norte a jogar a Libertadores, o Paysandu havia chegado lá graças à conquista de um título nacional hoje defunto: a COPA DOS CAMPEÕES, que reunia os vencedores e times mais bem classificados nos diferentes troféus regionais do país.
Afinal, na época não era só o Nordestão e a Copa Verde: tínhamos Copa Norte, Centro-Oeste, o Rio-São Paulo e a Copa Sul, depois transformada em Sul-Minas.
Em 2002, o ascendente Paysandu - que, além de vencer a Copa Norte, havia acabado de subir à Série A - surpreendeu o Brasil ao superar gente do naipe de Corinthians, Fluminense, Palmeiras e Cruzeiro (na grande final) para conquistar o título e a vaga continental.
Em 2003, o Papão entrava na Libertadores como azarão, e já de cara pegava um grupo com times experimentados nas lides continentais: o sempre presente Cerro Porteño 🇵🇾 e os ex-finalistas Sporting Cristal 🇵🇪 e Universidad Católica 🇨🇱, que haviam decidido o título na década anterior
Poderia ser um daqueles cenários em que "o que vier é lucro", mas aquele grande time de Robgol, Iarley e Vélber, entre outros jogadores que MARCARAM ÉPOCA, mostrou que não estava para brincadeiras: superaria a fase de grupos invicto, com 4 vitórias, 2 empates e 14 gols feitos.
Talvez o jogo mais significativo daquela primeira fase tenha sido o acachapante 6x2 aplicado sobre o Cerro Porteño, em solo paraguaio, pela penúltima rodada da fase de grupos. Robgol, Vélber e Iarley marcaram 2x cada:
Como aquela foi a única participação do Papão e foi TÃO BOA, o clube paraense ainda hoje é o dono de uma marca honrosa e inesperada: o MELHOR APROVEITAMENTO da história da Libertadores, segundo o @p14nt40. Contando as oitavas, o Paysandu abocanharia 70,8% dos pontos.
Com uma campanha tão esplendorosa, acabaria sendo uma grande infelicidade enfrentar logo nas oitavas o imparável Boca de Carlos Bianchi que, como costuma ocorrer com o Boca, tinha feito uma fase de grupos abaixo do desejável e avançou em 2º lugar, atrás do Independiente Medellín.
O Boca de Bianchi, até ali:

campeão argentino em 98, 99 e 2000, e seria de novo naquele 2003
campeão da Libertadores em 2000 e 2001
campeão do mundo em 2000, contra o Real Madrid, e vice em 2001, contra o Bayern, no gol de ouro
em 2002, só caiu na Libertadores pro campeão
Bianchi também já começava a construir a incômoda mística de sempre eliminar brasileiros quando cruzava com eles nos mata-matas da Copa - dado que se mantém até hoje.
Se para o Paysandu era infeliz cruzar com o Boca após aquela campanha, para os argentinos pareceu o contrário: o duelo contra uma equipe inexperiente em Libertadores, por melhor que fosse sua campanha, foi encarado pela imprensa de lá como um PRESENTE DOS CÉUS.
De quebra, o juiz da partida na Bombonera ainda seria o paraguaio Carlos Amarilla, embora em 2003 isso tivesse um significado bem menos PESADO do que passaria a ter após o Boca x Corinthians de 2013 e os infames áudios de Julio Grondona. espn.com.br/noticia/520745…
Finalmente, ao pisar na Bombonera o Paysandu também encontrava uma cancha mítica em que os brasileiros não costumavam ser muito afortunados. Por mata-matas de Libertadores, o único brasileiro a vencer por lá havia sido o Santos de Pelé, 40 anos antes.
(a outra vitória brasileira pela Libertadores dentro da Bombonera até então, do Cruzeiro em 1994, havia sido na fase de grupos)
O Paysandu tinha uma fase de grupos melhor, mas, a priori, pouco mais do que isso para assustar os multicampeões. O Boca tinha a história e a atualidade - estava em meio a uma grande dinastia ainda viria a incluir o título do mesmo 2003 e o vice (nos pênaltis) em 2004.
Mas o Paysandu também tinha esse sujeito.
Em 24 de abril de 2003, mais de 40 mil pessoas viram o Boca saltar ao gramado de seu estádio com Abbondanzieri, Ibarra, Burdisso, Crosa e Clemente Rodríguez; Battaglia, Cascini, Cagna e Donnet; Barros Schelotto e Delgado. Com 19 anos, o infernal Carlitos Tévez aguardava no banco.
Já o Paysandu, do técnico Darío Pereyra, entrou para a sua maior noite com Ronaldo, Rodrigo, Jorginho, Tinho e Luís Fernando; Sandro Goiano, Lecheva, Vanderson e Iarley; Vélber e Robson.
Sem se intimidar em Buenos Aires, foi o Paysandu quem deu o primeiro grande susto da noite - e com Iarley. Beirando os 18 minutos, acertou um chutaço que obrigou Pato Abbondanzieri a voar.
(aqui, o velho alerta: o vídeo linkado é sempre o mesmo, mas em cada tweet estará marcado já no tempo que interessa)
Mas nem só de chutes bonitos se faz um bom jogo de Libertadores.

Também há patadas e refregas.
Logo em seguida, aos 20 minutos, Clemente Rodríguez e Robgol SE ENCONTRAM na lateral do campo e Amarilla não quer saber - parece pouca coisa, mas, numa tática clássica da arbitragem sudaca que Messi só aprendeu sábado, expulsou os dois pra não se complicar
Um desfalque sério para os brasileiros: Robson havia marcado 6 gols nos 6 jogos da primeira fase. O Paysandu não poderia mais contar com ele naquela noite em Buenos Aires e, pela suspensão automática, nem na volta, em Belém.
AY AY AY AMARILLA DE DIOS
O zero a zero começou a parecer um negócio cada vez mais RAZOÁVEL para o Papão - na época, não havia gol qualificado na Libertadores, então pouco importava DE QUANTO se empatava. E empatar na Bombonera nunca era um mau negócio.
E melhor negócio começou a parecer já nos primeiros minutos do segundo tempo, quando o Paysandu foi condenado a jogar com nove em campo: aos 9 da etapa final, Vanderson cravou uma cotovelada em Schelotto e também viu o vermelho (este, bem mais justo).
O Xeneize, que começou o segundo tempo em cima, ganhava motivos para dominar ainda mais o que restava do jogo - e o que restavam eram uns QUARENTA MINUTOS, se contássemos os prováveis acréscimos.
A pressão boquense, porém, era infrutífera e pouco AGUDA.

Na época, falou-se muito da "teimosia" de Bianchi por insistir em deixar Tévez no banco com tudo parecendo jogar a favor, mas o Virrey tem razões que a própria razão desconhece e não cabe aos mortais questionarem.
De todo modo, o que faltou ao Boca sobrou aos alvicelestes: aos 22, em um lance que começa como um QUASE-DESASTRE defensivo mas é devidamente corrigido, o Paysandu troca bons passes para cruzar o campo e encontrar Iarley - e Iarley encontra a história.
Diante do choque que fez até os alto-falantes da Bombonera gelarem, o Boca se lançou desordenadamente ao ataque, e foi a vez de o goleiro Willis Gomes Dias, o RONALDO, brilhar.
Aos 29 minutos, finalmente, Tévez também viria a campo, na tentativa de evitar uma das mais improváveis derrotas da GESTÃO BIANCHI.
Mas não houve ataque bostero capaz de superar o gigantesco Paysandu em sua mais REFINADA noite.
O 1x0 do Paysandu foi uma forra após o desprezo dos Olés da vida e dos comentaristas que previam goleadas históricas a favor dos que vestiam azul y oro.
Os sonhos de grandeza não chegaram a se confirmar, pois o Boca ainda era o Boca, e mais sabe o diabo por ser velho do que por ser diabo. Mas aquela façanha da Bombonera sustentou-se por si mesma através dos tempos.
Na volta, novamente terminando a partida com nove em campo, o Paysandu seria dobrado por Schelotto (que marcou 3x no Mangueirão) e perderia por 4x2. Ainda assim, uma eliminatória mais próxima do que parece: sem gol qualificado, bastava um gol a mais para o Papão forçar pênaltis.
A reviravolta do Boca no 2º jogo também iniciou a mais dominante série de um campeão da América: rumo ao título de 2003, o Boca emendou 7 vitórias nos 7 jogos seguintes. Na história, NENHUM OUTRO time venceu mais que 6 jogos nos mata-matas de uma edição da Libertadores.
Assim, o Boca seria campeão com 7 vitórias e 1 derrota na fase eliminatória daquela Libertadores.

A derrota seria AQUELA, que reverbera ainda hoje.
Iarley deixou uma impressão tão profunda na Bombonera que seu gol o alçou a voos altíssimos, mesmo já tendo 29 anos de idade. O próprio Boca o contrataria e, no fim daquele mesmo ano, ele seria titular e camisa 10 na conquista do título mundial contra o Milan.
Um dos poucos brasileiros a fazer história em um grande argentino, a passagem de Iarley pelo Boca também é recordada pelo golaço que anotou em um 2x0 sobre o River Plate no Monumental de Núñez, em meio à conquista do Apertura de 2003.
O mais bem-sucedido jogador daquele Paysandu ainda venceria a própria Libertadores - e um Mundial, sendo decisivo contra o Barcelona - com o Internacional de 2006.
Naquela altura, ele e outros nomes que marcaram época na Bombonera já haviam seguido adiante, durando mais que a era dourada do Paysandu. Rebaixado da A para a B no final de 2005, o Papão nunca mais retornou ao nível mais alto do Brasil (ou à Libertadores) e hoje milita na C.
Outro jogador daquele Paysandu a vencer uma Libertadores posteriormente foi Vélber, mas sem destaque: era reserva no São Paulo tri em 2005.
Finalmente, Sandro Goiano passaria perto da glória continental: chegaria à final da Copa com o Grêmio em 2007, mas acabaria superado pelo próprio Boca (e expulso na decisão). Num desses reencontros improváveis, naquele vice foi colega de Schiavi, a quem havia enfrentado em 2003.
Por fim, o dado: depois do Paysandu, o Boca nunca mais perdeu uma partida de mata-mata de Libertadores para um brasileiro dentro de casa (foi superado duas vezes na Bombonera, mas sempre na fase de grupos, que para o Boca, você bem sabe, é OUTRA COISA - Flu/12 e Palmeiras/18).
E este é o seu #60Jogos60Copas de hoje.
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