Thread by @teofb

Classificação justa do Athletico, construída em cima de um domínio total na Arena da Baixada.

Os dois gols são muito interessantes de analisar. Muitos detalhes importantes que podem ser facilmente esquecidos, mas que determinaram o resultado.

Os dois times tinham formações parecidas (aliás, a formação que domina o futebol mundial e principalmente brasileiro há mais de uma década).

Linha de quatro na defesa, dois caras abertos, um centro-avante e três homens no meio-campo.

Mas sem a bola o Grêmio virava um 4-4-2 com os dois volantes por dentro, Alisson e Pepê acompanhando os laterais adversários e Jean Pyerre alinhado a André na frente.

Por isso, Tiago Nunes usava a "saída de três": construía o jogo lá de trás com três jogadores mais o goleiro. Criava superioridade numérica ali e anulava qualquer possibilidade de pressão do Grêmio na saída de bola.

Conseguia passar da primeira linha com facilidade.

Mas a saída de 3 do CAP era diferente do que estamos acostumados. Em vez de um volante recuar entre os zagueiros, ela é formada pelos zagueiros e um lateral.

O lateral direito se mandava pra virar um ponta, dando amplitude na direita enquanto Rony fazia o mesmo na esquerda.

Com a bola então, o time era algo entre um 3-3-4 e um 3-4-3 (com losango no meio). Isso gerava muita dificuldade pro Grêmio porque gerava sobrecarga na defesa pq não era claro quem Pepê e Alisson deveriam marcar pelas pontas.

Os gols são uma boa amostra dessa estrutura e ainda são belíssimos exemplos das reações em cadeia no futebol. Uma decisão força outra, que leva a outra e assim em diante.

Vamos ao primeiro gol.

O Grêmio tinha um a menos momentaneamente depois da lesão de Leonardo e, com isso, Alisson foi cobrir na lateral direita. Era agora um 4-3-2 sem bola.

No lance, o CAP gira o jogo e quando a bola chega a Márcio Azevedo sem marcação, então Romulo decide fazer pressão.

A bola é lançada e chega a Rony. Mas aqui a corda já estourou: com a saída de Romulo para um lado e Pepê preocupado apenas com o lateral do outro, Matheus Henrique está sozinho contra dois no meio.

A decisão de Geromel de disputar a bola com Rony faz com que existam 4 do CAP contra 3 do Grêmio entrando na área.

Para piorar, Matheus vem correndo olhando a bola e mantém sua marcação ajustada a Citadini. Ele parece não perceber que Bruno Guimarães já disparou em diagonal!

A bola chega na área, mas já é tarde demais: Bruno G. está sozinho, Cortez fica no meio do caminho, sem bloquear o chute e nem marcar Nikão, a zaga não consegue deixar Marco Rúben impedido, Citadini ainda está entrando sozinho... O gol poderia ter saído de mil formas!

O segundo gol tem uma estrutura diferente, mas uma sequencia parecida.

Alisson se adiantou para ser um terceiro marcador da saída de bola, fechando Marcio Azevedo. Para não manter a superioridade numérica, Wellington recuou e veio participar mais dessa fase do jogo.

A bola chega a Bambu (um dos melhores em campo) livre e André abandona Wellington para fazer pressão no zagueiro. Com isso, Matheus Henrique sai de Bruno Guimarães (fora da imagem) e vai apertar Wellington.

Não dá tempo de fazer esse ajuste e Bambu encontra um ótimo passe para Khellven, que já bota na frente, trava e aciona Nikão. Como Citadini também estava por ali, Romulo é arrastado para aquele lado para manter a superioridade numérica. O efeito? Um buraco no lado oposto.

Poderia ser um 3x2 na esquerda, mas a bola demora para chegar a Rony. Dá tempo de Alisson e Matheus voltarem. Romulo balança para o meio. Mas na área continua um 3x3. Mortal. O cruzamento é bom e tira qualquer chance de corte.

Tiago Nunes é muito bom treinador. Muito mesmo. É difícil falar em "nó tático" hoje em dia, mas certamente sua estratégia teve um papel fundamental para romper a primeira linha do Grêmio e impor o domínio.

O time do Athletico é subestimado. Merece atenção!