, 27 tweets, 8 min read
A greve dos caminhoneiros de 2018 foi uma das coisas mais insanas de um país dado a coisas insanas. Semanas depois, o Ministério da Fazenda calculou um prejuízo de R$ 16 bilhões à economia brasileira. Mas a estimativa soa conservadora...
g1.globo.com/economia/notic…
...Porque só a Petrobras chegou a perder, em valor de Mercado, absurdos R$ 137 bilhões.
www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/0…
Enquanto o país parava, a imprensa tentava entender o que tinha originado aquilo. E muito se falava em "locaute", uma "prática irregular pela qual as companhias impedem empregados de trabalhar".
epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia…
Aquela paralisação durou de 21 a 30 de maio de 2018.

Sabe o que também aconteceu em 21 de maio de 2018? Jair Bolsonaro publicou um vídeo declarando apoio à paralisação:
Um detalhe, contudo, não me escapou. No segundo 36, Bolsonaro diz: "a paralisação, prevista a partir da segunda-feira..."

Os termos escolhidos deixam a sensação de que o vídeo fora gravado antes mesmo de a greve se iniciar.
Sabe quem também se empolgou com a greve? Filipe Martins. Ele passou aqueles dias publicando textões pregando que "precisamos ser corajosos". E que, nas demandas dos caminhoneiros, havia a lei do voto impresso, única emenda aprovada por Bolsonaro na vida.
facebook.com/filipe.garcia.…
Segundo Filipe Martins, as reivindicações dos caminhoneiros – que tanto o entusiasmavam – incluíam até uma intervenção militar:

"Em caso de descumprimento, nos somaremos ao clamor popular por intervenção militar."
No dia seguinte, Filipe Martins se empolgou ainda mais. E publicou o que soava um manifesto. Com letras garrafais: "OS DONOS DO PODER NÃO TÊM A MENOR IDÉIA DO QUE OS AGUARDA"
facebook.com/filipe.garcia.…
No dia 26, já com animais morrendo sem ração ou se canibalizando na pista, e com hospitais sentindo a falta de medicamentos, o exército marchou para desobstruir as vias.
g1.globo.com/sp/campinas-re…
No dia 27, com o noticiário enumerando os detidos por conta da greve, Jair Bolsonaro veio com este tweet, que permitia duas leituras:
Primeiro, a que qualquer pessoa entendia:
Jair Bolsonaro acreditava que venceria a eleição e, uma vez presidente, libertaria qualquer detido em decorrência da greve dos caminhoneiros.
Mas eu estava inserido numa bolha que leu as mesmas palavras de outra forma:

O "futuro presidente patriota" não tardaria a chegar. Bastava ir às ruas fazer a revolução que, após uma intervenção derrubar Michel Temer, todo mundo seria libertado.
Ok. Que papo é esse de revolução?

Na segunda, dia 28, Olavo de Carvalho surgiu em vídeo explicando no canal de Joice Hasselmann: a Revolução Brasileira seria aquilo que derrotaria o "estamento burocrático" e entregaria o Brasil à "verdadeira democracia".
Quem também falava em "revolução brasileira"?

Filipe Martins. Ele passara o ano de 2017 excursionando com uma palestra sobre o tema. Já escrevi sobre isso em outra thread:
Enquanto isso, as redes sociais da bolha bolsolavista convocavam todo mundo às ruas porque iria acontecer uma intervenção militar – que alguns, por vergonha, preferiam chamar de "ruptura democrática". twitter.com/search?f=tweet…
(Por falar em ruptura, foi neste dia, e por este motivo, que rompi qualquer laço que tinha com essa gente.)
Na internet, parecia que uma multidão queria a volta da ditadura militar. Mas a Folha de S.Paulo registrou o público daquela noite de segunda-feira: "cerca de mil" – afinal, bot não vai às ruas.
www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/0…
Só após o fiasco daquela tentativa de golpe, Jair Bolsonaro disse que "a paralisação precisa acabar". E, sim, usou o termo "golpe" para definir o que os eleitores dele pediam: "Dar essa bandeira para o PT dizer que foi golpe, porque aí foi golpe mesmo”.
www1.folha.uol.com.br/poder/2018/05/…
Nessa entrevista, Bolsonaro nega que tenha convocado a greve. Mas admite que estava em contato com "gente deles" antes mesmo de a paralisação se iniciar.
Na manhã seguinte ao fiasco, Olavo de Carvalho tentou desconversar: "Com relação a intervenção militar, só acredito vendo!" facebook.com/olavo.decarval…
Em entrevista recente, Gustavo Bebianno disse que um golpe de Estado está nos planos de Jair Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Filipe Martins.

E eu acredito em Bebianno.
congressoemfoco.uol.com.br/eleicoes/bebia…
Aqui temos Eduardo Bolsonaro quase que explicitamente prometendo um golpe de Estado.

É vídeo de hoje.
Eduardo Bolsonaro dizendo que, se a esquerda radicalizar, o governo Bolsonaro pode vir com “um novo AI-5”.

Até quando ele falará esses absurdos impunemente?
Algumas pessoas reclamaram da falta de contexto no vídeo.

Então vou publicar do ponto em que a pergunta é feita até o segundo que o Twitter me permite publicar.
Se alguém quiser ver a entrevista por completo, segue o link.

A pergunta em questão ocorre aos 18 minutos e 44 segundos.
Eduardo Bolsonaro apostando que sairá impune:
Rodrigo Maia se manifestou no sentido de punir Eduardo Bolsonaro.
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