Há alguns anos eu tenho defendido um abandono da definição popperiana de ciência (atividade intelectual baseada em propor constructos teóricos falseáveis) para abraçar uma definição que vem do pragmatismo: o núcleo do que é ciência é senso comum + crítica, num ciclo cumulativo.
Isso pode parecer abstrato, mas na verdade nos salva de armadilhas, como a armadilha de abraçar teorias radicais como o behaviorismo em psicologia e economia. Enquanto o senso comum nos dá uma noção mínima de entidades mentais como "querer", "preferir", e "estar consciente", ...
os behavioristas alegam que esse "papo mental" deve ser esvaziado e reduzido a comportamentos observáveis apenas. Na economia, temos Mises e Rothbard, que aplicam uma versão do behaviorismo para negar, por exemplo, que podemos não ter preferência por um produto ou outro.
A não-preferência é levada a sério pelos economistas neoclássicos, que têm modelos a respeito que os "austríacos" abominam. As ações mentais de querer, desejar, pensar etc. são levadas a sério por terapeutas que aplicam modelos como a TCC, pra desprezo dos behavioristas radicais.
Adotando a visão pragmática de ciência, teorias que buscam jogar fora estados mentais aceitos pelo senso comum provavelmente não são científicas, enquanto teorias que buscam analisá-los, complexificá-los e entendê-los têm uma reivindicação de cientificidade mais plausível.
Pode parecer contra-intuitivo dizer que uma explicação do que é ciência tem de incluir senso comum, especialmente diante de revoluções como a copernicana. Com a palavra Howard Sankey (2014), sobre por que é errôneo achar que Copérnico destruiu o senso comum: 
A órbita dos planetas sempre foi embaraçosa pro modelo geocêntrico. A órbita de Mercúrio, em particular, permaneceu embaraçosa para o heliocentrismo até o século XX! O avanço da ciência ajudou a acomodar explicativamente essas órbitas, com sua aparência real para o senso comum.
