Um fio sobre: o cidadão do vídeo nazista sabia o que estava fazendo?
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Claro que sim. Relaciono isso com algo que já escrevi e que é tão forte no Brasil que tem gente que cai na desculpa do nazista que ele não sabia o que estava fazendo. (1/13)
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Claro que sim. Relaciono isso com algo que já escrevi e que é tão forte no Brasil que tem gente que cai na desculpa do nazista que ele não sabia o que estava fazendo. (1/13)
Antes, uma história. Vc já viu quando o filho de alguém bate com a canela na mesa, um dos pais pega sua mão e o faz repetir: “mesa feia!”? Ou quando, no trabalho, vê um monte de problemas sem dono? (2/13)
Falta ao brasileiro accountability, uma ausência tão sintomática que nem a palavra existe em português – a melhor tradução talvez seja “responsabilização individual”, e ainda assim essa é uma tradução falha. (3/13)
No Brasil, nada é nossa culpa. O filho vai mal na escola? Os pais transferem a responsabilidade para o professor. Que reclama do diretor e das condições de trabalho. O diretor culpa o governo, que por sua vez transfere tudo para a crise internacional ou o FMI. (4/13)
Quantas vezes o leitor não ouviu a seguinte frase: “Fulano não passou na prova, mas coitado, a prova estava muito difícil.” Quantos professores já foram postos na cruz pq os alunos não estudaram? (5/13)
Nossa cultura está recheada de exemplos de transferência de responsabilidade, para o bem e para o mal. No caso da criança e da mesa, a culpa passa a ser do objeto inanimado, e não da cria distraída. (6/13)
Nossos cacoetes comportamentais são assumidos na mais tenra infância. Uma pessoa é accountable quando toma para si as consequências de seus atos. Isso significa que assume os erros quando é sua culpa, mas também que também deve receber os louros por suas atitudes. (7/13)
Exemplos de falta de accountability estão até na língua portuguesa. Se deixamos um copo cair e ele se espatifa no chão, quase sempre dizemos: “o copo caiu”. O sujeito da frase, nesse contexto, é o copo, que obviamente se suicidou. (8/13)
O que está na língua vale para o sistema político e econômico. Quando um político ruim é eleito, a primeira coisa que fazemos é negar que tenhamos votado nele. Jânio Quadros renunciou citando forças ocultas. (9/13)
Toda vez que há qualquer sinal de crise no país, a primeira ação de um governante é encontrar um culpado indeterminado: crise internacional, falta de chuvas, o FMI etc. Ou o Leonardo DiCaprio (10/13)
A falta de accountability é um problema sério no Brasil, pois afeta a produtividade das empresas e torna nosso jogo político e econômico ainda pior, já que ninguém nunca é culpado por nenhum erro. (11/13)
Nas empresas, um tempo gigantesco é perdido gerindo problemas sem dono. Do outro lado da moeda, não valorizamos as realizações dos trabalhadores – “não faz mais que sua obrigação”, afirmam os gestores. (12/13)
E agora se junta a isso o cidadão enganado por funcionários esquerdistas. Não tem nem coragem tem pra assumir sua asneira. Quer, como bom brasileiro, não ser accountable. Nada disso. Sabia que era citação nazista e, pelo que se conhece do cidadão, não deve se arrepender. Fin.
