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Nas minhas redes, esse relatório da Oxfam passou meio desapercebido. E em especial, esse dado assustador sobre quanto vale o trabalho doméstico não remunerado no mundo:

cartacapital.com.br/sociedade/trab…
Para quem já leu Silvia Federici, Helena Hirata, ou mesmo a Saffioti, sabe que isso não é exatamente novidade.

Todavia, agora a gente tem uma cifra que torna mais objetivo o calculo.
Em 2019, o PIB anual global foi de pouco mais de 87 trilhões de dólares.

Apenas EUA e China tiveram PIB superior aos 10 trilhões de dólares.
Entre os conglomerados, o Google recentemente passou a valer 1 trilhão de dólares. Segundo essa reportagem, a chamada "Big Tech" americana atualmente vale em torno de 5.2 trilhões de dólares:

markets.businessinsider.com/news/stocks/mo…
Mas a grande sacada não é só pensar em cifras e sim em gênero: o peso de uma classe trabalhadora feminina na economia mundial deveria nos fazer repensar estratégias políticas com urgência (isso, claro, para quem tá no lado esquerdo da rua).
São muitas as estratégias de dominação para fazer com que essa indústria de 10 trilhões de dólares tenha tantas trabalhadoras não-remuneradas. E atacar isso é fundamental para qualquer socialista, comunista ou anarquista.
Podem dizer que isso não é novidade. Quem já leu Wendy Goldman e seu clássico "Mulher, Estado e Revolução" sabe que a experiência soviética foi inovadora, entre outras coisas, por promover lavanderias e restaurantes públicos.
Era uma forma necessária de questionar a divisão sexual do trabalho numa sociedade profundamente machista e contribuir com a emancipação feminina.

Mas não só isso: é desenvolver uma indústria de cuidados, regularizada, controlada por trabalhadores e trabalhadoras.
A "Viena vermelha", dos anos entrguerras, também desenvolveu creches e asilos públicos, gratuitos e de qualidade. Até crematórios públicos foram feitos para ajudar as famílias dos operários em épocas sem seguridade social (vejam a história do mutualismo operário).
Conforme a gente fica mais velho, a gente entende como é importante que esses serviços de cuidados sejam valorizados. E para além disso, a pesquisa da Oxfam confirma algo que uma longa tradição socialista já afirmava.
Recuperar o sentido do trabalho do cuidado e organizar trabalhadoras mal (ou mesmo não-remuneradas) torna-se cada vez mais fundamental para construir programas revolucionários - e, na boa, até mesmo progressistas.
Ainda mais aqui, na periferia do capitalismo, onde nem o Estado de Bem-Estar social se formou e onde boa parte da elite brasileira é a encarnação de Justo Veríssimo, querendo que o "pobre se exploda".
No país do quarto de empregada em condomínio de classe média, organizar a luta pelo cuidado deveria ser imperativo de qualquer agenda radical.

Ainda mais depois desse relatório.
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