Thread by @igornatusch

Esse senhor da foto se chama Theo Wiederspahn. Veio da Alemanha para Porto Alegre em 1908, e virou um dos mais famosos arquitetos de seu tempo na América do Sul. Depois foi esquecido, e só ressurgiu porque acharam seus papéis no meio de um galinheiro.

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Wiederspahn tinha 30 anos quando chegou. Rompeu com o pai, deixou a herança para a ex-esposa e filhos na Alemanha e se mandou para o Brasil. Já era bom no que fazia - quatro obras dele em Wiesbaden, sua cidade natal, são hoje patrimônio histórico alemão.

Porto Alegre era então uma cidade próspera, que sonhava com ares burgueses e tinha grana para investir. Wiederspahn chegou aqui no momento exato para brilhar. Fez dezenas de obras marcantes, como a sede da Receita Federal (hoje o Margs), de 1914

Além de excelente construtor e desenhista, Wiederspahn era criativo e ousado. A Cervejaria Bopp (hoje Shopping Total), de 1911, marcou época: maior prédio de concreto armado da América do Sul à época, era cheio de detalhes de escultura, incomuns para prédios industriais

Hoje, é consenso: Theo Wiederspahn foi um gênio da arquitetura. No entanto, só cerca de 10% do que ele fez ainda está de pé (o Palácio Chaves, esse do desenho, é um que foi demolido). Durante décadas, seu trabalho era ridicularizado. Por quê?

Primeiro, ele se deu mal em vida. Sofreu perseguição do conselho de arquitetura da época (que dizia que ele não tinha diploma), foi preso na 2a Guerra por ser alemão e passou a trabalhar no interior, criando abelhas em seu sítio para fechar as contas

(O que não quer dizer que o que fez nessa fase fosse ruim. A igreja do Leprosário de Viamão, por ex, é dele - e é um projeto considerado genial por arquitetos e historiadores. Wiederspahn orientou a obra por correspondência - uma história incrível, que conto outra hora)

Pesou ainda mais a chegada do modernismo na arquitetura. Ecléticos, como Wiederspahn, viraram "fachadistas" bregas. Os prédios que fizeram eram sinônimo de coisa velha. Alguns, tipo o Edifício Ely, se salvaram por milagre - o terreno é estreito, e não servia para um arranha-céu.

Theo Wiederspahn foi esquecido durante décadas. Até entrar na história Günter Weimer, esse senhor da foto. E o galinheiro.

Conversei com Günter esses dias. Quero conversar outras vezes. É uma figura, podem acreditar.

Estudando a história arquitetônica de Porto Alegre, Weimer encontrou o nome Wiederspahn em uma edição antiga do Correio do Povo e foi atrás. Achou a família numa chácara da Ponta Grossa, bem ao sul da cidade. E perguntou: vocês guardaram os papeis do velho Theo?

Sim, guardaram. Em um baú.
No galinheiro.

As galinhas dormiam em cima do baú.

Imaginem o que foi RASPAR quase três décadas de cocô de galinha para conseguir chegar nos documentos tudo.

Lá dentro, estava tudo. Desenhos de Wiederspahn, anotações minuciosas, projetos arquitetônicos. Tanta coisa que levou dois anos só para ORGANIZAR tudo, ANTES de começar a pesquisa.

Esse material todo virou um livro sensacional. Recomendo entusiasticamente a leitura.

Hoje, quem falar em colocar abaixo uma fachada de Wiederspahn passa por bárbaro em Porto Alegre (o que não quer dizer que não derrubem, é claro). Mas sua fama, ao menos, está resgatada. Graças à curiosidade de um pesquisador, desses que vocês acham que não serve para nada.

Fiz uma matéria para o @JC_RS sobre Theo Wiederspahn. Nela, tem muita informação que não coloquei aqui. Leiam, cliquem, passem adiante, prestigiem. Escrever esses negócios dá trabalho, vocês sabem :)

Obrigado pela leitura. Seguimos!

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