O pensamento linear encaixotado é ruim pra pensar racismo. Pensar que o preto é o maior alvo de racismo tá tranquilo, mas coloca em nível (maior/menor) algo que opera em diferenças utilitárias para o poder dos brancos, para o capital. Não podemos disputar quem sofre mais, mas.. +
Entender que o racismo tb é nos colocar uns contra os outros, mas não nós contra os b(r)ancos. Então, uma das armas aqui é a estereotipia. O congelamento da imagem de uma indivíduo ou povo a revelia da história. Ex: olho puxado, japa, inteligente. Tornar estanque, sem história. +
Então o preconceito com indígenas é muito grande nas áreas em que ocupam suas terras ancestrais. Mas se falamos em natureza, há consensos sobre serem protetores. Por outro lado, é difícil alguém associar a imagem dos pretos à conservação da natureza, apesar da história.. +
Quilombolas, ribeirinhos e pescadores artesanais pretos tb são os responsáveis pela conservação dos biomas onde vivem. A prova foi a retirada do petróleo das praias brasileiras por pescadoras artesanais. Nós não fazemos essa associação pq a imagem do preto se conecta a outras. +
Por exemplo à força física, trabalho manual pesado e etc. Os pretos são associados a isso por conta da escravidão. Porém no norte do país a escravidão indígena se manteve por todo o período escravocrata na prática. Grandes obras foram realizadas com força indígena. +
Estes estereótipos operam de forma útil. Para tomar a terra indígena, alega-se a preguiça, o não trabalho destes e a necessidade de trabalhadores das lavouras, pretos, para ocupá-las. Quem ativa isso é o poder branco. Sua ordem discursiva e penal. +
Os objetivos brancos são quem seleciona a estereotipia. Ex: muitos italianos que ocuparam as vagas fabris no início do século XX no sudeste eram camponeses e tinham menos familiaridade com as máquinas que muitos pretos. Mas o branqueamento ali era o objetivo. +
Lima Barreto denuncia isto com Dr. Bogoloff, um europeu fanfarrão que engana as autoridades brasileiras fingindo-se de cientista. O branco se perde na estereotipia tb. Ele crê que alguém é cientista pq tem cara de cientista e mesmo tomando golpe, segue. +
Fanon assevera que a psicose epidémica-racial atinge o branco tb. Sua superioridade é desejada, não real. E ele se deparará muitas vezes com rejeições e dores que imaginava que não deveria ter. Os brancos pobres eleitores de Trump estão reclamando disso tb. +
O caso do #ItauRacista é bom. Mas tb o #LuandaLeaks. Isabel Santos é uma bilionária de Angola que como todos os bilionários não tiveram sua riqueza fruto da produção, mas da expropriação. Mas toda maquinaria midiática se voltou contra ela: olha, a preta roubou. +
Não importa suas notas em Oxford, nem sua história de "sucesso" No mercado. Ela está diante da imagem que precisa ser negada: preta terceiromundista que ascendeu. Ela deve ter roubado, mas não se trata disso, se trata de posicioná-la no lugar da imagem desejada por brancos. +
O asiático e o indígena não padecem da imagem de enganadores. Este último tinha a indolência como atributo na colonização. Mas os Payayá se aliavam aos portugueses, contrariando muitos parentes revoltosos, levavam os brancos à chapada Diamantina ou ao norte da BA e os matavam. +
Enfim, é preciso diminuir o Ranking da desgraça colonial e pensar na estrutura racista controlando a forma como as maiorias nos enxergam. Estas formas mudam, seja por nossas lutas, seja por novas demandas do capital. Nosso papel é nos congregar para acabar com os genocídios.
