1/10 O que é mais provável, dada a correlação de forças atual: 1) Bolsonaro dar um golpe e destruir o que sobrou de democracia e estado de direito; 2) Bolsonaro sofrer o impeachment? Minha opinião: a probabilidade de ambas as hipóteses é bastante pequena. Segue o🧶.
2/10 O golpe é pouco provável por falta de motivação: 1) os militares já estão no poder, mais até do que na ditadura; 2) a esquerda segue longe do poder, fazendo barulho, mas sem capacidade de bloquear na agenda liberal; 3) o Congresso está alinhado com a agenda da burguesia.
3/10 O único que deseja o golpe é o clã Bolsonaro, para ampliar seu poder e fugir das investigações de seus crimes, cerceando imprensa e justiça. Ele conta com o apoio das PMs e das milicias, além de alguma massa de apoiadores civis, mas sem força ainda para impor um golpe.
4/10 Caso ele force a "mão" e caminhe para o golpe, pode ser abandonado por parte significativa da burguesia, que não tem interesse em mais agitação, já que todos seus pleitos estão sendo atendidos na "democracia". Corre o risco de ver setores militares e jurídicos o abandonarem.
5/10 A hipótese de impeachment é ainda mais remota. Apoiado por 30% do eleitorado e amplos setores da burguesia, com o suporte dos militares e de setores majoritários do poder judiciário, Bolsonaro adoraria ser alvo de um pedido de impeachment e se colocar como vítima.
6/10 O fato da oposição, de setores da imprensa, da sociedade civil e da comunidade internacional denunciarem os abusos autoritários do governo pode servir para limitar seu avanço, mas não tem força para inviabilizar o mandato de Bolsonaro.
7/10 Para o impeachment, seriam necessárias três condições: 1) deterioração forte do apoio popular a Bolsonaro, com aumento da insatisfação social; 2) capacidade da oposição de canalizar essa insatisfação para movimentos de rua; 3) reversão na posição da burguesia e dos militares
8/10 Os dois primeiros fatores dependem da economia e indicadores sociais. Caso prossiga o fracasso da estratégia liberal de retomar crescimento e emprego, a insatisfação pode crescer gradualmente. Mas caso haja uma nova crise (interna ou externa), a insatisfação pode explodir.
9/10 Já o terceiro fator é uma incógnita. É evidente que crise, baixa popularidade e insatisfação social podem abalar o apoio de Bolsonaro junto a setores da burguesia. Mas eles embarcariam nessa aventura? E os militares, iriam arriscar se expor com Mourão?
10/10 Nesse sentido, acho que o debate sobre golpe miliciano e impeachment revela dois desejos, duas tendências, mas não duas opções reais hoje. O mais provável é que esse equilíbrio instável se mantenha até que algum ator conquiste força suficiente para concretizar seus desejos.
