O governo brasileiro começou a apostar forte no uso da cloroquina como solução para a crise do coronavirus, anunciando a distribuição de 3,4 milhões de unidades. O fio explica os resultados de pesquisas científicas sobre o uso da cloroquina para o tratamento de COVID-19.
1/13- No final de janeiro, um grupo de pesquisadores de Wuhan utilizaram um ensaio in vitro com células de rim do macaco-verde africano (VERO E6) para demonstrar que a adição de cloroquina, e de outro remédio chamado remdesivir, reduziram a taxa de infecção por COVID-19.
2/13- Em seguida utilizaram o mesmo modelo experimental para demonstrar que hidroxicloroquina também inibia a infecção das células por COVID-19, que é uma variação da cloroquina usada no tratamento de doenças autoimunes com menor toxicidade e maior disponibilidade.
3/13- A vantagem da cloroquina e hidroxicloroquina é que são medicamentos já em uso comercial, tendo um estoque para uso imediato e possibilidade de já entrar na fase 3 de testes clínicos, acelerando muito o tempo de entrada no mercado para tratar a presente epidemia.
4/13- Esses resultados devem ser interpretados com cautela. No passado, cloroquina também demonstrou atividade antiviral em experimentos in vitro para influenza, zika, chicungunha e ebola, mas esses resultados não foram mantidos ao utilizar modelos animais ou testes em humanos4.
5/13- Em condições normais, testes in vitro são a primeira etapa de um processo de pesquisa básica. Porém, devido a urgência foram iniciados testes clínicos de eficácia com humanos para testar o efeito da cloroquina e hidroxicloroquina em pacientes com COVID-19.
6/13- Pesquisadores de Qingdao (China) publicaram sem mostrar os resultados um trabalho cuja conclusão foi: “results from more than 100 patients have demonstrated that chloroquine phosphate is superior to the control treatment in inhibiting the exacerbation of pneumonia...”.
7/13- Em seguida pesquisadores da França publicaram um estudo realizado com 36 pacientes onde os indivíduos tratados com cloroquina ou cloroquina + azitromicina tiveram uma redução na carga viral acima do controle. Resultados promissores, apesar de ter questões amostrais.
8/13- Entretanto, acaba de sair um estudo realizado em Shanghai com 30 pacientes8, onde os pacientes tratados com cloroquina não apresentaram diferenças estatísticas em relação ao grupo controle quanto a evolução da infecção por COVID-19.
9/13- No momento, o embasamento científico para o uso de cloroquina para o tratamento de COVID-19 se restringe a ensaios in vitro e testes clínicos com resultados inconclusivos. Lembrando dos cuidados com o uso, uma vez que este apresenta diversas reações adversas.
10/13- Devido a tal nível de incerteza, não está na hora de anunciar o uso do medicamento e passar a responsabilidade de escolha do uso do remédio para médicos da frente de batalha.
11/13- Está na hora de pedir ajuda para a tão sucateada e caluniada comunidade acadêmica para manter o leque aberto explorando outros potencias remédios e em paralelo fazer um teste clínico mais abrangente para testar o efeito da cloroquina/hidroxicloroquina.
12/13- É importante ter em mente que descobrir um tratamento efetivo é algo bastante difícil. Até hoje não temos tratamento para vírus como Ebola, SARS, MERS, zika, chicungunha. O ponto positivo é a quantidade de esforços dedicadas nesse momento a encontrar tratamentos eficazes.
13/13- Mais importante: a busca por um novo medicamento é um esforço complementar aos esforços de combate estratégico e planejado da epidemia com testagem em massa, confinamento e organização de uma rede de atendimento de emergência, que não podem ser menosprezados nesse momento.
