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Muitas LGBTs votaram no Bolsonaro. Além de ser LGBTfóbico, ele celebra o #GolpeDe64 e defende uma ditadura hétero-militar que perseguiu LGBTs. Sigam o fio baseado em minhas pesquisas pra ver como era ser LGBT na ditadura e pensarem melhor se é isso que queremos pra hoje 🌈
O #GolpeDe64 foi justificado ideologicamente em defesa da família tradicional, dos valores religiosos e de uma moral conservadora. Basta lembrar as Marchas da Família com Deus pela Liberdade entre março e junho de 64. O discurso anticonsumista se aliou ao sentimento reacionário
Moral e política andaram juntas na repressão da ditadura. Ser LGBT significava romper com a imagem do “cidadão de bem”, minando a família patriarcal e as instituições. Documentamos essas violências no livro Ditadura e Homossexualidades e desenvolvo algumas delas a seguir
Houve circuito repressivo próprio das contravenções morais. LGBTs eram espancadas, torturadas e presas em rondas policiais, no pós-AI-5 e no fim dos anos 70, quando se exterminou a luta armada e a repressão virou pra outrxs “indesejáveis”. @Estadao notícia plano contra travestis
Delegado José Wilson Richetti comandou essas rondas em 1980 em São Paulo. Matérias da @folha relatam que 300 a 500 pessoas, sobretudo prostitutas e LGBTs, eram presas arbitrariamente POR DIA EM FINS DE SEMANA. Eram torturadas na delegacia, extorquidas e submetidas a humilhações
O jornal Lampião da Esquina, que circulou de 1978 a 81, denunciava as rondas e como as travestis eram alvos preferenciais da violência policial, essas fotos atestam isso
Tamanho era o respaldo que o Richetti tinha do governador Paulo Maluf e do secretário de segurança Erasmo Dias que ele impedia inspeção da comissão de direitos humanos da ALESP formada por deputadxs como @esuplicy , Ruth Escobar, Fernando Morais e Irma Passoni
Mas as bichas resistiam e, conforme matéria do jornal alternativo Afinal, diziam em humor ferino pra polícia: “não é deste tipo de pau que a gente gosta”
A primeira “parada” LGBT foi feita em 13 de junho de 1980 na frente do Teatro Municipal justamente contra a violência policial. Mais de 500 pessoas se concentraram na escadaria e mais de 1 mil pessoas marcharam pelas liberdades das prostitutas, LGBTs e negrxs
Estas fotos registram a manifestação histórica em que movimento homossexual (como chamava à época) se juntou com os movimentos negro e feminista contra os abusos policiais, com destaque pras travestis e lésbicas
Na resposta do DOPS à imprensa sobre esse ato, fica claro como a ditadura considerava as pessoas LGBTs: “degradação humana” da época de Sodoma e Gomorra, de “tão tristes lembranças”
Mas não foi só a polícia nas ruas que reforçou a LGBTfobia. O Serviço de Censura e Diversões Públicas censurou diversas músicas e peças de teatro por razão moral. Esta música de Luiz Ayrão, nada erótica ou pornográfica, foi vetada em 1972 por fazer “divulgação do homossexualismo”
Esta outra de Gil e Rita Lee, uma versão de Get Back dos Beatles, foi proibida também por enfocar “homossexualismo e lesbianismo”
A imprensa também foi censurada. Celso Curi, que mantinha uma coluna dedicada aos homossexuais no jornal Última Hora desde 1976, a Coluna do Meio, foi dispensado do jornal é processado por violar a “moral e os bons costumes” da Lei de Impresa conforme relata o número 0 do Lampião
Livros também foram alvo da censura. 205 obras foram proibidas não por serem “comunistas”, mas por questões morais. Eram livros sobre sexualidade, sobre homossexualidade ou de autorxs LGBTs, como a lésbica Cassandra Rios, que teve 36 livros seus censurados
Empregados de empresas públicas também sofreram perseguição. Um funcionário do restaurante dentro de uma unidade da Petrobras foi mandado embora, apesar de ser um bom empregado, por ser afeminado, como a ficha produzida pela própria empresa comprova
Também militares sofreram com o moralismo institucionalizado na ditadura. Diversos servidores militares foram cassados por acusações de “homossexualismo” conforme a decisão abaixo que foi assinada pelo próprio Costa e Silva, ainda enquanto Ministro do Exército
Mas não foi só repressão. O movimento LGBT surgiu nesse período em 1978 e contribui imensamente para o processo de redemocratização, aliando-se a outras lutas e renovando as visões das esquerdas sobre a sexualidade. Exemplo disso é a presença de LGBTs no 1 de maio de 1980
Então quando virmos celebração do #GolpeDe64 , nós, LGBTs, devemos conhecer essa história de repressão e de resistência. Há que se escolher sem vacilação de qual lado estamos. O meu é o da #DitaduraNunaMais
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