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Eduardo Coudet pode ser mais um treinador estrangeiro chegando no Brasil com a expectativa de elevar o nível de um time e do campeonato.

Uma tendência que vai se estabelecendo e lembra muito o que aconteceu na Premier League nos últimos anos.

Segue o fio aí, vai.
A Inglaterra dominou o cenário europeu por quase uma década. Nas onze temporadas entre 75 e 85, os ingleses colocaram estiveram presentes em nove finais da Copa da Europa (atual Champions League), tendo vencido sete títulos - seis seguidos!
Mas na final de 85, uma tragédia.

Tragédia de verdade, não apenas uma derrota dentro de campo.

O Desastre de Heysel matou 39 pessoas e deixou centenas de feridos por esmagamento no jogo entre Juventus e Liverpool, depois de confusões nas arquibancadas.
Com isso, os Ingleses foram banidos das competições europeias por cinco temporadas (e o Liverpool por seis).

Voltaram em 90-91 e, já na temporada seguinte, duas mudanças importantes: a Copa da Europa se tornou UEFA Champions League e surgiu a Premier League.
O Campeonato Inglês nunca mais seria o mesmo. Os grandes clubes (na época, Manchester United, Arsenal, Liverpool, Everton e Tottenham), insatisfeitos com a gestão financeira da federação, romperam e fundaram a English Premier League com o apoio de outros clubes médios.
Eles queriam receber uma fatia maior do dinheiro gerado, mas também acreditavam ser possível crescer MUITO o tamanho das receitas totais do campeonato - tanto com TV, quanto bilheteria e marketing.

Esse foi o impulso inicial que mudou o futebol inglês para sempre.
Porém, na volta à Europa, os Ingleses perceberam que tinham ficado para trás. Mesmo com o crescimento estrondoso das receitas, demorou nove anos para que um Inglês voltasse à final - o Milagre de Barcelona (Man Utd 2x1 Bayern)
Na virada do século, o fenômeno econômico da EPL já estava consolidado. Os ingleses tinham mais dinheiro do que podiam gastar.

Mesmo assim, demorou mais seis temporadas para colocarem outro time na final - em mais um milagre, dessa vez em Istambul (Liverpool 3x3 Milan)
A partir daí, domínio completo.

Oito finalistas ingleses em oito anos! Com uma final totalmente inglesa entre Manchester United e Chelsea em 2008.

Apesar de terem vencido apenas três títulos, o desempenho inglês na Europa era considerado um sucesso total.
Isso acendeu o alerta nos clubes de outros países, que também se estruturaram para decolar financeiramente e despejar quantias ridículas no futebol para montar verdadeiras seleções mundiais.

Compare os times campeões do Barcelona em 2006 e em 2014, por exemplo.
Os espanhóis, alemães e posteriormente até franceses conseguiam roubar os maiores talentos da Inglaterra. Seja pelo clima ensolarado, vantagens no imposto de renda, calendário mais ameno ou por de jogar contra equipes mais fracas, se poupando para os jogos mais importantes.
Michael Owen venceu o Ballon D'Or (Bola de Ouro) jogando pelo Liverpool em 2001. Entre 2003 e 2008, sete jogadores de clubes ingleses estiveram entre os três finalistas - só Cristiano Ronaldo venceu pelo United.

Depois disso, ninguém. Nenhum. Zero!
Se a Inglaterra já não atrai os maiores talentos dentro do campo - mesmo com todo dinheiro do mundo - como pode competir no mais alto nível?

A resposta estava fora do campo. Na área técnica.
Começa então um plano para trazer os maiores treinadores do mundo para a Terra da Rainha.

Ferguson e Wenger tinham sido magníficos nos 20 anos anteriores, mas não serviam mais. A Premier League precisava de gente nova, inovadora e com sede de vitória.
O Tottenham deu uma chance ao promissor Pochettino, que vinha muito bem no Southampton, em 2014. O Liverpool trouxe Klopp em 2015. O Man Utd optou pelo "special one" Mourinho em 2016. Depois de uma longa busca, o Arsenal encontrou Unai Emery em 2018. O Chelsea foi atrás de Sarri.
Mas o fenômeno não se restringe apenas ao "Big Six".

O Everton quis o holandês Ronald Koeman (hoje treinador da Holanda) em 2016. O Wolves pegou o português Nuno Espírito Santos. O Newcastle trouxe o espanhol Rafa Benítez....
A grande joia da coroa, é claro, foi a chegada de Pep Guardiola ao Manchester City em 2016.
O quadro estava formado. A tabela de classificação final de 2018-19 teve, em ordem, um espanhol, um alemão, um italiano, um argentino, outro espanhol, um português (substituído por um norueguês) e outros dois potugueses nas oito primeiras posições.
Nessa mesma temporada, as duas finais de competições europeias tiveram apenas times ingleses.

O Liverpool venceu o Tottenham pela Champions League e o Chelsea goleou o Arsenal na Europa League.
Treinadores estrangeiros não são novidade no Brasil. Lá atrás, no início do futebol profissional no país, tivemos sul-americanos e europeus comandando clubes grandes.

Nos últimos anos, Gareca, Aguirre, Rueda, Bauza, Osório e até Paulo Bento, entre outros, passaram por aqui.
Mas claramente o sucesso estrondoso de Sampaoli e Jorge Jesus fez com que o interesse se chegasse a um novo patamar.

O Brasil teve treze finalistas em doze anos na Libertadores no início do século! Em 2019, terá mais um, mas precisa retomar sua hegemonia.
Os treinadores estrangeiros, mal vistos pela imprensa e pelos colegas de profissão brasileiros, começarão a chegar no atacado. A tendência deve ser essa nos próximos anos.

Uma tendência que pode ser positiva para oxigenar o nosso futebol.
Só falta aos clubes brasileiros entender uma coisa...

De nada adianta contratar treinadores estrangeiros sem uma filosofia de futebol por trás. O fato de terem nascido fora do Brasil não os transforma em milagreiros. É preciso estratégia, estrutura, tempo e continuidade.
Se os clubes não souberem qual tipo de futebol pretendem praticar, dependerão da sorte. Se quiserem resultados imediatos, manterão o ciclo louco do nosso futebol.

Aí, tanto faz ser brasileiro ou estrangeiro. A única diferença é que a multa rescisória é em dólar.
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