NO AR. Por que a enquete de Bolsonaro sobre radares não serve para medir a opinião pública. aosfatos.org/noticias/por-q… 
Dois dias após a Justiça invalidar ato do governo que suspendeu o uso de radares móveis em estradas, o presidente @jairbolsonaro lançou enquetes nas redes sociais sobre a medida. Até agora, já foram contabilizados mais de 900 mil votos, a maioria em favor da decisão do Executivo.
@jairbolsonaro As enquetes, porém, não tem validade estatística nem podem ser consideradas representativas da população, além de estarem sujeitas a fraudes. Explicamos a seguir como funcionam as pesquisas de opinião e por que as enquetes de Bolsonaro não funcionam para medir a opinião pública.
@jairbolsonaro 1. Pesquisas de opinião tem como base teórica o Teorema Central do Limite, um dos mais importantes do campo da estatística. Uma de suas consequências é que, obedecidas certas condições, é possível estimar características e opiniões de uma população entrevistando uma amostra dela.
@jairbolsonaro Para que as pesquisas sejam confiáveis, a seleção de entrevistados deve ser aleatória. Ou seja, se uma pesquisa pretende mostrar o que os brasileiros pensam sobre um assunto, todos devem ter a mesma chance de serem escolhidos para entrevista. É a amostragem aleatória simples.
@jairbolsonaro Na prática, produzir amostras aleatórias simples de populações grandes é muito difícil e caro, então institutos de pesquisa costumam usam outra técnica chamada "amostragem estratificada".
@jairbolsonaro Nela, antes de ir a campo, os pesquisadores pegam dados conhecidos sobre a população — como gênero e idade, por exemplo — e se asseguram de que a amostra de entrevistados é representativa nesses indicadores.
@jairbolsonaro Assim, por exemplo, se a população brasileira hoje tem 55% de mulheres e 45% de homens, cerca de 55% dos entrevistados da pesquisa eleitoral ou de opinião serão mulheres e 45% serão homens.
@jairbolsonaro 2. Pesquisas de opinião feitas pela internet têm limitações importantes, embora pesquisadores tenham avançado em estudos sobre como usá-las para fazer inferências mais precisas sobre a população.
@jairbolsonaro O primeiro problema é que nem todo mundo tem internet. No Brasil, cerca de 75% da população tem acesso à rede em casa, segundo o Ministério das Comunicações. Isso pode gerar distorções na amostra, como, por exemplo, deixar de fora a população mais pobre.
@jairbolsonaro A mesma crítica, em menor medida, pode ser feita às pesquisas por telefone. Nem todo mundo tem um número — e algumas pessoas podem ter vários, distorcendo as chances de cada um ser selecionado.
@jairbolsonaro Outro problema das pesquisas pela internet é que elas são de adesão voluntária, ou seja, é o entrevistado que vai até um site e busca o questionário, não os pesquisadores que o abordam. Isso é o que os estatísticos chamam de "amostra de conveniência".
@jairbolsonaro Isso tudo não significa que pesquisa online seja sempre ruim, mas essa ainda é uma técnica relativamente pouco usada, sobre a qual há menos estudos e que, por isso, é menos confiável.
@jairbolsonaro Trabalhos acadêmicos mostram que pesquisas via internet até podem ser acuradas, mas precisam usar modelos estatísticos complexos para corrigir as distorções na amostra. Ainda assim, diversos levantamentos apontam que esse tipo de levantamento é mais enviesado.
@jairbolsonaro 3. Pesquisas de opinião feitas pelas redes sociais contam ainda com dois agravantes: a) o número de usuários das plataformas não cobre toda a população do país; b) o algoritmo decide quem vai ver aquela enquete, dando mais destaque a quem já é afinado com o perfil que a publicou.
@jairbolsonaro Ou seja, quem já segue Bolsonaro — e, pode-se deduzir, tem simpatia por suas propostas — tem uma chance maior de ver entre as suas atualizações na rede uma enquete feita na página oficial do presidente.
@jairbolsonaro As redes ainda permitem que um usuário crie mais de uma conta, o que abre a possibilidade que pesquisas sejam manipuladas por robôs, programas de computador usados para automatizar tarefas.
@jairbolsonaro Também é impossível auditar o resultado de uma enquete na rede social, pois as plataformas só disponibilizam o número de votos totais que cada opção recebeu, mas não quem foram os usuários que participaram. Isso impede identificar a ação de robôs para manipular o resultado.
@jairbolsonaro 4. Por fim, outro aspecto importante é a elaboração das perguntas da pesquisa, que pode influenciar as respostas dos entrevistados e distorcer os resultados.
@jairbolsonaro Em 2003, o Pew Research Center perguntou à população americana se ela era "a favor ou contra de uma ação militar no Iraque para acabar com o domínio de Saddam Hussein" e 68% dos entrevistados se declararam a favor da ação.
@jairbolsonaro As respostas mudaram quando a pergunta foi se eles seriam "a favor ou contra uma ação militar no Iraque para acabar com o domínio de Saddam Hussein mesmo que isso signifique que o exército dos EUA poderia perder milhares de vidas": 43% se disseram favoráveis.
@jairbolsonaro Nas pesquisas eleitorais aqui no Brasil, cuidados com a redação das perguntas também costumam ser tomados. Em pesquisas presenciais, é comum, por exemplo, pôr os nomes dos candidatos em um disco, para evitar que a ordem dos nomes influencie os entrevistados.
@jairbolsonaro Em junho, ao anunciar a enquete, Bolsonaro deixou clara sua posição: "sabe o que é radar móvel? É aquela multa que você não estava esperando e chega. [...] Se você gosta de pagar multa você vai votar a favor, eu vou votar para acabar com o radar móvel."
@jairbolsonaro Logo antes de publicar a enquete nesta quinta (12), o presidente também postou um vídeo em que o jornalista Alexandre Garcia critica a decisão judicial que obrigou a volta dos radares móveis.
