Thread by @tantotupiassu

A história de hoje...

Seu Eustáquio era um cara tranquilão.

Caminhoneiro das antigas, seu Eustáquio rodava o Brasil todo em um velho caminhão gaiola, que antigamente era a forma mais comum de transportar boi vivo entre cidades e estados brasileiros.

Uma coisa que incomodava a ele era o velho caminhão. Quando digo velho, era velho mesmo, apesar de resistente e confiável.

Mas o sonho dele era comprar um caminhão novo, ao menos não tão velho, que pudesse manter o sustento da casa.

A questão era o preço, tudo sempre tão caro.

Em um dos fretes, ele veio justamente para o Norte, precisamente para Belém do Pará.

Já na cidade, foi visitar um amigo e descobriu o caminhão gaiola perfeito, semi novo, com um preço inacreditável.

BARBADA!

Já deixou o caminhão velho de entrada e saiu de carro novo.

A felicidade era tanta, tamanha, que ele nem se importou com o cansaço e já rumou para casa, mesmo com o caminhão vazio.

Ligou para a esposa para contar a novidade, e quem poderia imaginar que as coisas estranhas só estariam começando...

Estrada escura e vazia... uma linha reta sem fim. Seu Eustáquio concentrado no caminho, sonhando com o Tocantins, nem se ligava no retrovisor, quando deu uma olhada despretensiosa e viu um homem na gaiola, de costa, como se olhando para o caminho que passava...

O caminhoneiro pegou um suato tão grande que quase perdeu a direção.

Provavelmente era um caroneiro cara de pau que tinha subido na boleia, mas ele ia ver...

Mais a frente tinha uma barreira da PRF, e ele pararia lá e o cara ia se dar mal.

E assim foi.

Eustáquio acelerou, chegou na barreira e já fez sinal para os policiais de que tinha alguém escondido na boleia.

Os policiais vieram correndo, mas, para surpresa geral, não havia ninguém.

Eustáquio ficou sem entender nada, constrangido diante dos homens da lei.

Refeito do susto e da estranheza, pegou novamente a estrada sob advertência de parar logo para dormir, pois ver coisas daquela forma era sinal de cansaço.

Naquela noite, dormiu em um hotelzinho na próxima cidade e não pensou mais naquilo.

Na manhã seguinte, outro susto: a chave do caminhão havia sido furtada de seu quarto.

Foi um escândalo. Chama a policia, entraram no meu quarto de noite!

Ele dizia que a chave tinha dormido na mesa de cabeceira, ao lado da carteira, como sempre. E agora tinham furtado.

No meio das perguntas todas, um policial teve um átimos de lucidez.

- Mas, se levaram a chave, então levaram o caminhão...

Ninguém tinha pensado em ver o caminhão, aí correram todos para o pátio e o caminhão estava lá, tranquilo.

- Roubaram a chave, mas não levaram o veículo?

E quando foram ver, a chave estava lá dentro, na ignição...

Seu Eustáquio foi tirado de louco, cansado, atrapalhado, mesmo que ele afirmasse veementemente que tinha trancado o caminhão e tinha guardado a chave como sempre...

Estaria ficando doido, logo agora, com o carro novo?

Por conta disso ele decidiu ficar mais um pouco na cidade e sair no dia seguinte bem cedinho, antes do sol nascer.

E assim ele fez... pagou a conta, andou até o caminhão e, quando chegou lá, viu um homem na cabine... ele não conseguia ver o rosto, mas nitidamente era um invasor

E quando ele correu para brigar com o cara, briga mesmo, defender sua propriedade... encontrou a cabine vazia.

Seu Eustáquio sentiu um desespero tão grande, uma vontade de chorar, pois o que era aquilo, aquela sequência de fatos bizarros que estavam ocorrendo?

E nessa hora, no escuro da madrugada, a rua vazia e silenciosa, sem viva alma... seu Eustáquio sentiu uma presença sombria nas suas costas e, quando virou, havia um homem com o rosto deformado que gritava desesperadamente com ele, um grito ensurdecedor.

Na mesma hora, uma mão terrivelmente pesada pegou seu pescoço e apertou de forma horrenda, e foi apertando, apertando, até que Eustáquio perdeu os sentidos e desmaiou...

Quando ele acordou, nem pensou em ligar para a esposa, nem nada.

Algo dizia que devia voltar imediatamente para Belém, pois havia alguma coisa fora do lugar.

Já chegando à cidade, cansado pelo estirão, por siversas vezes ele voltou a ver o homem de rosto deformado...

Foi um esforço tremendo não bater o caminhão, não sair da estrada ou simplesmente abandonar o veículo e sair correndo pela estrada, como um louco.

Depois de horas daquela deformação aparecendo ao seu lado, ou pelo retrovisor, finalmente, Belém.

Ele foi direto para a loja de veículos usados e foi direto ao ponto:

- Por que esse caminhão foi tão barato?

E o gerente, muito constrangido, contou a história...

O antigo dono descobriu um câncer terrível, bem na época em que se tornou viúvo.

Sem família, descrente da vida, decidiu por fim em tudo com um tiro mortal no rosto, dentro do seu novo caminhão gaiola, conquista suada e sua única casa agora que estava sozinho no mundo.

A cabine ficou cheia de sangue e miolos, o homem que nem podia ser reconhecido tal era a destruição no rosto...

Ninguém entendia nada. Um sobrinho colocou o veículo a venda, mas aquele era o 3º comprador que voltava querendo desfazer o negócio.

Por que será, né?

Todos devolviam o caminhão desesperados, amedrontados, sem conseguir explicar nada.

Desfeita a compra, seu Eustáquio saiu de lá novamente no antigo caminhão gaiola, que podia ser velho, mas, ao menos, não era assombrado...

No Tocantins ninguém entendeu nada, igualmente.

Por que demorou? Que aconteceu? Cade o caminhão novo?

O tanto que seu Eustáquio contou, o tanto que riram dele... mas bem, difícil quem não passou entender as estranhezas da vida e da morte.

Seu Eustáquio é avó da @giovnbs.

Hoje está com 72 anos, bem e forte, um contador se histórias nato, que ainda sente arrepios quando conta a história de como foi visitado pelo suicida com ciúmes de seus caminhão gaiola.

Fim.