Hoje chegou via WhatsApp um vídeo que ajuda a entender a emergência do bolsonarismo. Um cidadão mostra a carteira de vacinação de seu cão, apontando que entre as várias coisas que uma vacina evita, aparece “Coronavírus”. Daí ele conclui: “esse vírus já está aí há muito tempo”. +
“Portanto, se já existe até em vacina de cachorro, não é novidade e já havia prevenção contra ele. Logo, tudo é uma conspiração econômica chinesa”, conclui o gajo, numa lógica de fazer inveja a Olavo de Carvalho. É raciocínio similar ao que conclui ser o nazismo de esquerda. +
Afinal, segundo tal razão (sic), se o nome está lá, a coisa está também – desde que, claro, eu queira que assim seja. Pode-se dizer que se trata de uma ontologia subjetiva: o mundo existe tal qual eu desejo descrevê-lo, ainda mais se alguma coincidência, amplificada, ajuda. +
Tal tipo de raciocínio rasteiro, espalhado por WhatsApp e quejandos, foi a base da expansão bolsonarista. Aplica-se à política, à saúde, à economia, à cultura ou a qualquer coisa que o pensamento delirante e conspiratório, de senso comum ou olavista (dá quase no mesmo), queira. +
Isso se soma à estratégia bolsonaresca de criar confusão continuamente, mesmo que a um alto custo. Veja-se o estrago feito pelo 03 com a China. Nem se trata de discutir se a China é ou não ditadura (claro que é), ou se as autoridades chinesas erraram ou não no início do surto. +
A questão é que, sendo não só filho do presidente, mas participe de seu governo (mesmo sem cargo formal no Executivo), acompanhando o pai em tudo quanto é viagem oficial, qualquer coisa que Edu Bananinha disser será associada ao pai e, portanto, à posição oficial do governo. +
Bananinha não é jornalista, cientista político ou blogueiro, que pode dizer o que quiser, pois se trata apenas de sua percepção. Sendo inevitavelmente associado ao governo, suas posições requerem cálculo. “Ah, mas distraiu a todos e tirou o foco da crise”. Sério?! A que custo? +
Mesmo seja estratégia, seu custo é altíssimo, não só para o país, mas para os Bolsonaros. Agem como quem, para matar as baratas, ateia fogo na casa. Não à toa o país está à deriva e o presidente, moribundo. Tal modus operandi é insustentável a longo prazo. Ainda mais numa crise.
