Thread by @louverture1984

Já escrevi sobre isso, mas só para ressaltar diante do artigo mentiroso e xenófobo do Larry Rohter que a @RevistaEpoca resolveu publicar:

- A epidemia de gripe asiática de 1957 foi inicialmente registrada em Cingapura e não na China: cdc.gov/flu/pandemic-r…

- Quando ela atingiu a China, contudo, o momento foi terrível. A tentativa de reconstrução nacional do "Grande Salto pra Frente" estava começando. E apesar de ter sido uma política desastrosa, o número de mortos está diretamente relacionado à epidemia:

globalsecurity.org/security/ops/h…

- O governo chinês reconhece 15 milhões de mortos (mas outros estatísticos e historiadores chegam a 45 milhões, como o caso do Frank Dikötter, que extrapola cifras por meio de inferências por vezes absurdas). Mas na narrativa dele, não há nada sobre a pandemia.

- Já em 1968, a pandemia de gripe se originou em Hong Kong (e cerca de 15% da população foi atingida). Nessa época, como se sabe, Hong Kong era possessão colonial britânica. E os ingleses nada fizeram para conter a epidemia por considerarem que ela tinha baixa letalidade.

- Mas as pandemias se espalham e essa acabou chegando nos EUA. Após se espalhar pelo Sudeste asiático, chegou até o Vietnã. E após a ofensiva de Tet, quando muitos soldados americanos retornaram para os EUA, traziam na mala a gripe "chinesa".

- Embora Larry Rohter queira colocar a gripe de 1968 na conta do Partido Comunista Chinês, ele tem na verdade dois outros "culpados" para apontar o dedo: o domínio colonial britânico em Hong Kong e a guerra imperialista dos EUA no Vietnã.

- Contudo, como é um jornalista desonesto, resolve falsificar a história deliberadamente. E, claro, a @RevistaEpoca sequer se prestou a rever essas informações. Um trabalho editorial primoroso - só que não.

- Mas eu concedo que o SARS, de fato, está ligado à China. Mas, volto a insistir, leiam o historiador Mike Davis. Seu livro "O monstro bate à nossa porta" identifica que o problema está longe de ser o comunismo e sim justamente o contrário. É no capitalismo que está o monstro...

- Está justamente na urbanização acelerada das cidades chinesas, no consumo massivo de víveres promovidos por uma indústria alimentícia predatória (olá, agronegócio!), está na indústria farmacêutica, que lança antibióticos à rodo e tenta capitalizar as epidemias.

- A proliferação do COVID-19 em Wuhan está ligada diretamente à intensa urbanização de uma cidade que fica às margens da maior usina hidroelétrica do país, a Hidrelétrica das Três Gargantas. Essas obras colossais geram inegável impacto e desequilíbrio ambiental.

- Essa crítica, claro, Rohter não faz. Não é do seu interesse. É preciso culpar a China, o PCCh, o comunismo. Falsificações históricas e omissões gritantes fazem parte de uma estratégia que tem como fim estimular uma guerra ideológica que o trumpismo vem tentando empreender.

- Que o bolsonarismo, capacho como é, compre essa narrativa, faz parte. Que a @RevistaEpoca embarque nessa já é mais ridículo. Recomenda-se que o periódico da próxima vez faça uma checagem correta das informações e que abra espaço para cientistas fazerem o contraponto.

- Eu mesmo, com o pouco conhecimento que tenho, consegui desmontar essa narrativa ridícula de Rohter. Imagina quem é, de fato, especialista. Basta apenas que a revista pare de dar palco para palhaço em épocas de desinformação e pandemia.

PS: Falei antes e falo de novo. A desinformação do artigo é grave o suficiente para reforçar o preconceito de que todo oriental é "chinês", à medida que confunde Cingapura e Hong Kong com a RPC.