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F A N T Á S T I C O!

Santos e Flamengo fizeram o melhor jogo do ano. Eletrizante, ofensivo e bem jogado. Um suco de bom futebol!

Os craques brilharam com golaços, mas Ronaldinho levou a melhor sobre Neymar.

Volta no tempo e segue o fio!
Vanderlei Luxemburgo levou a campo seu time ideal escalado no 4-3-1-2. Luiz Antônio e Renato iam e voltavam, enquanto Willians ficava vigiando Ganso ou cobrindo a subida de um dos laterais. Ronaldinho era um segundo atacante que partia do lado esquerdo buscando sempre o centro.
Do outro lado, Muricy escalou o Santos na mesmíssima formação. Neymar fazia o mesmo movimento de Ronaldinho, mas Borges funcionava como uma excelente parede recebendo de costas. O Santos acionava o tempo todo o camisa 9 para que ele fizesse a retenção da bola
Para além do talento individual, o jogo deixou escancaradas algumas características do futebol brasileiro relacionadas a estilo de marcação, controle da amplitude e intensidade nas transições.

A partir dessas três ideias e de muitas falhas traçou-se um roteiro incrível!
O Santos começou avassalador. Logo no início, Ibson recupera a bola pelo lado esquerdo, Neymar mostra que estava com a estrelinha do Mario, Elano encontra grande passe e Borges abre o placar.

Elano esconde muito bem o passe. Abre todo o corpo para a direita, mas joga a bola na esquerda. Mesmo assim, há um erro grosseiro de Welinton em relação ao posicionamento corporal. Se estivesse de frente para a bola ou para Borges, seria uma interceptação fácil.
O Flamengo sentiu o baque, mas começou a colocar a bola no chão, se acalmar e até criar chances. Numa saída aos 15 minutos, no entanto, Renato erra uma virada de jogo e coloca tudo a perder.

Esse gol é uma aula sobre o estilo de marcação predominante do futebol brasileiro e o tipo de falha que pode acontecer quando é mal executado.

Os times aqui marcam com encaixes por setor, o que significa uma marcação individual por região do campo.
Quando Neymar intercepta o passe, Willians sai para marcá-lo. Apenas Neymar e a bola importam para o volante rubro-negro. Assim, Ganso fica livre e Ronaldo Angelim, que não está em ninguém, sai para perseguí-lo.
Angelim, porém, está muito distante. Ganso recebe protegendo a bola e abre-se um latifúndio para Neymar atacar. A prioridade de Welinton é marcar Borges, não proteger o espaço, então ele persegue o atacante em vez de se adiantar criando uma linha de impedimento.
Junior Cesar não acompanha o avanço de Neymar e não fecha o espaço deixado por Angelim. Assim, Welinton precisa sair para uma cobertura desesperada, deixando Borges completamente livre.
Não há nada inerentemente errado nessa marcação por encaixes e nem nas perseguições longas. Quando a caça, a pressão na bola e a troca de marcador são mal feitas, no entanto, esses buracos sempre aparecem.
O Flamengo cria, reage, mas o Santos está pegando fogo. Neymar faz o gol mais bonito do ano.

Felipe sai igual a antes, com a mão para cima, mas o craque santista já conhece o segredo e toca no canto. Ele não perde dois gols iguais.

Agora vamos falar sobre o controle da amplitude, ou seja, da largura do campo.

O 4-3-1-2 é uma formação muito equilibrada que oferece muitas alternativas. Porém, o meio-campo estreito tem dificuldade de controlar os corredores laterais, que ficam bastante vazios.
Assim, os laterais dos dois times costumavam ter muita liberdade com a bola. Se o meio-campo adversário “deslizasse” para o lado da bola, tentando preencher o setor, a melhor alternativa era virar o jogo para o outro lado e pegar o lateral e o “volante-ala” com espaço sobrando.
O Flamengo buscou esse caminho o tempo inteiro. Foi numa dessas viradas, aliás, que Renato Abreu entregou o segundo gol de bandeja ao Santos. Não foi uma jogada aleatória, mas algo pensado que se repetiu muitas vezes - mas deu errado naquela.
Quando o rubro-negro encontrava esse espaço, deixava Léo em uma situação difícil, precisando controlar sozinho a chegada de Leo Moura e Luiz Antônio. Assim, conseguia ultrapassar pela direita e gerar perigo. No pior cruzamento, Ronaldinho diminuiu.

Com dificuldades para controlar a largura mais uma vez, o Santos deixou Leo Moura chegar sozinho no fundo. O cruzamento saiu na cabeça de Thiago Neves que, abandonado por Elano no início da jogada, ficou sem ninguém o acompanhando nos encaixes santistas.

Aí vem o lance mais louco de todo esse roteiro. Neymar faz mais uma grande jogada, é derrubado e o árbitro marca pênalti. Na cobrança, Elano, que havia isolado um pela Seleção 10 dias antes, tenta uma cavadinha e vê Felipe sair fazendo embaixadinhas.

O Flamengo empatou inacreditavelmente ainda no primeiro tempo em um escanteio ensaiado. O time já havia tentado duas vezes. Na terceira, Deivid marca e não comemora.

O placar mostrava 3x3 no intervalo e Luxemburgo decidiu tirar Welinton, que já tinha cartão amarelo e era incapaz de parar Neymar, para colocar David Braz. Logo no primeiro lance de perigo, o novo zagueiro também mostra que não está à altura do desafio.

Reveja o lance todo. Quando o Fla perde a bola no ataque, metade do time nem reage. Depois de alguns segundos, cinco jogadores começam um trote lento voltando. O próprio Santos não sai em disparada: apenas quatro aceleram e o resto não acompanha, deixando o time espaçado.
Esse é o último ponto da análise. Mesmo um jogo como esse, de altíssimo nível, cheio de reviravoltas e disputado em altíssima rotação, ainda apresenta pouquíssima intensidade nas transições - quando posse da bola muda de um time para o outro.
Do jeito que o futebol anda, daqui a uns dez anos, lá para 2020, essa falta de intensidade e compactação tende a ser inaceitável.

A intensidade total deve se tornar parte tão integral do jogo que todo mundo vai começar a abusar dessa palavra até dizer chega.
Willians, esse sim um leão incansável nas transições - talvez à frente do seu tempo - aperta e força o erro na saída de bola. Ronaldinho empata mais uma vez com um toque de gênio.

Para fechar, mais uma vez o Santos ataca espaçado e em marcha-lenta. O Fla rouba e agora gira a chave rapidamente, acelerando o contra-ataque. Há seis do satistas próximos ao lance, mas só dois estão defendendo de verdade. 3x2 e um dos 3 é Ronaldinho.

Um jogo louco, incrível, épico, maravilhoso. Um roteiro surreal. Dois gênios e vários bons coadjuvantes. Uma partida de futebol para ver e rever sempre que possível.

Se algum dia você precisar ficar em quarentena, recomendo: leve Santos 4x5 Flamengo para poder assistir.
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