Bolsonaro, ontem, deu um xeque no sistema político, muito possivelmente orientado por agentes externos, que querem fazer do Brasil uma réplica e, ao mesmo tempo, um laboratório do que se passa no mundo. Ele cuspiu na mão e mandou impedirem ou deporem ele (1/10).
Percebam: seja por dissimulação, ou aparente titubeio, Bolsonaro voltou atrás da MP que suspendia salários por quatro meses, deu declarações nervosas anteontem e sinalizou com uma bandeira branca. Era tudo dissimulação para ganhar tempo e contra-atacar (2/10).
Nesse sentido, ele tem seus conselheiros internacionais, junto com o exemplo de Netanyahu e Orban, que se usaram da crise para conseguir poder total em Israel e na Hungria. Eles não contavam com a crise, mas a usaram a seu favor, sublinhando sua emergência (3/10).
Bolsonaro foi pego no contrapé no caso do corona, pois já planeja sua manobra de colocar as instituições nas cordas em 15 de março, mas a pandemia o atravessou -- inclusive por chegar no seu staff direto, numa viagem que era para ser seu impulso glorioso a tomada do poder (4/10).
E junto disso, unem-se grupos cientificamente antimodernos, como anti-ciência e anti-vacina, como em nenhum outro governo de direita radical no mundo. Nem Trump tem essa gente tão forte, embora esteja, na prática, deixando passar a pandemia, ora culpando a China (5/10).
Boris Johnson que é meio isso, meio direita tradicional, no Reino Unido quase foi induzido a cair na tese genocida da "imunização de grupo" -- ou foi forçado a voltar atrás: deixar a pandemia se espalhar, matar pessoas e esperar ir embora (6/10).
Nos EUA, contudo, Trump está se usando habilmente do corona, pelo menos enquanto a pandemia não toma tons trágicos, embora lá, ela já esteja mais grave do que aqui: lá, contudo, ele acena com uma agenda positiva de keynesianismo de direita com certas medidas assistenciais (7/10).
O fortalecimento momentâneo de Trump, Netanyahu e Orban cria um caldo para Bolsonaro, embora ele pessoalmente enfraquecido, partir para o ataque com mais força. O caso brasileiro, do ponto de vista sanitário e socioeconômico, contudo, é o pior do mundo (8/10).
Bolsonaro, contudo, jogou o all in, dizendo o seguinte: vocês não têm cacife, coragem e acordo entre vocês para me impedir. Porque até agora todos os absurdos que ele fez foram apenas contornados, não confrontados, seja por um fortalecimento do Congresso ou dos estados (9/10).
Hoje, é isso. Ele decidiu nas últimas horas, com algum conselho e algum apoio, a partir para cima. E ou bem Rodrigo Maia toma uma providência, ou acabou para a democracia brasileira e isso vai ser um desastre (10/10).
