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No dia 23/03 jogámos a nossa quinta sessão da campanha “Para Além da Tela” de @KultRPG

...O sangue jorrou então da garganta cortada do irmão do artista e espalhou-se pelo chão como um balde de água acabado de tombar. 1/49
Ao tocar os pés de Honório todo o seu corpo escorregou para dentro do líquido vermelho-escuro. Os seus olhos abriram-se e este viu-se imerso na imensidão de um líquido quente que lhe dificultava os movimentos. 2/49
Empurrou-se na direção de uma trepidação quase imperceptível e ao sentir o toque de uma superfície sólida emergiu apoiando-se nela com toda a força das suas pernas. 3/49
Estava agora prostrado num piso coberto de pedra preta e um líquido oleoso escorria do seu corpo. O som de lamúrias conduziram-no a um espaço amplo onde sete telas de um rosa claro se projetavam das paredes escuras. 4/49
Ao chegar perto de uma delas Honório reparou que uma figura feminina se encontrava por detrás da tela. Era uma mulher que, desnuda e coberta de lanhos, estava ajoelhada de costas para ele e no espaço entre esta superfície e a parede. 5/49
Apoiada por uma estrutura de metal enferrujada inserida no tórax a sua pele havia sido meticulosamente estendida pelas extremidades da armação para se tornar uma superfície na qual se podiam observar padrões fluidos de poros e pigmentos. 6/49
A boca da mulher começou então a abrir e a fechar sem emitir nenhum som...

No hall de entrada da Casa Montalvor o teórico de conspiração presenciou o corpo de Honório submergir na poça de sangue do homem que acabara de degolar. 7/49
Tomás entregou-se a um pânico descontrolado face à implausibilidade do que havia acabado de acontecer. Quando recuperou o seu auto-controlo este estava de joelhos no meio da rua e com luzes de faróis a ofuscar a sua visão enviesada para os prédios que rodeavam a praça. 8/49
Ainda ofegante reconheceu o pedaço de vidro que segurava na mão quando duas figuras saíram do carro e caminharam lentamente na sua direção. Um deles segurava um instrumento metálico com uma pega e varetas de ferro enquanto afirmava a sua vontade em levá-lo com eles. 9/49
Tomás olhou para os homens e reparou que ambos tinham o mesmo semblante: um cabelo pastoso, uma pele macilenta coberta de um tom azulado bem como um bigode ralo e loiro. Eram dois deles, dois dos Sem Face que o perseguiam nos seus delírios! 10/49
Urrando de fúria usou a arma pontiaguda que tinha na sua posse para evitar ser dominado pelo seus oponentes mas debilitado pela sua visão vazada foi levado a mergulhar de cabeça no banco traseiro do carro e ficou inconsciente com uma bastonada na nuca... 11/49
Depois de um longo silêncio no regresso ao seu apartamento em Braço de Prata o hacker tentou reconfortar a sua noiva mas só a impeliu a retirar-se para o quarto. Nesse momento de solidão Falcão decidiu abrir o seu portátil e adentrar-se nos recantos mais obscuros da Net. 12/49
Depois de horas a navegar de site para fórum para BBS o hacker encontrou o arquivo de uma mailing list onde o nome de José Fernandes, jornalista que escreveu um artigo sobre os estranhos assassinatos da Mata do Medo, era referido. 13/49
Um utilizador com o nick “M3nsag3iroD@Lu2” acusava o jornalista de ter encoberto os homicídios macabros de jovens mulheres para assim proteger os interesses dos proprietários locais. Além do mais o próprio andava a gastar o dinheiro com menores dedicadas à prostituição! 14/49
Numa resposta outro utilizador incentivava os leitores a visitarem a morada de José Fernandes para lhe extorquirem dinheiro. A interrogação acerca “Quem será na realidade este Fernandes!?” afigurou-se então na mente do hacker e deixou a sua marca. 15/49
Outra resposta tinha como anexo uma montagem de fotografias de jovens mulheres em momentos de descontração. As faces das vítimas eram difíceis de reconhecer devido à descoloração das fotos ou o modo descuidado como as imagens haviam sido dispostas umas por cima das outras. 16/49
Uma profunda sensação de enjoo desnorteou o hacker quando este visualizou os seus corpos inanimados num covil escuro que já lhe havia ocupado anteriormente a sua imaginação. Mas um gemido vindo do quarto fê-lo recobrar da repulsa pelas imagens... 17/49
Na sala ampla de sete telas Honório ouviu por fim as palavras trêmulas da mulher ajoelhada: “A dor... a dor nunca para… Ele prometeu libertar-me…. Alexandre!” O artista questionou a figura quanto à identidade de quem lhe tinha feito essa promessa. 18/49
A mulher confirmou então que se tratava de Alexandre Corvo, o líder da Comunidade Artística que há dezenas de anos atrás a havia ocupado a Casa Montalvor. 19/49
Empunhando a faca com que havia sacrificado uma pessoa nem há uma noite atrás Honório traçou uma linha de sangue no pescoço da sustentáculo humano da tela fazendo-lhe verter um pouco de fluido viscoso. 20/49
A mulher continuou a fitá-lo movendo os olhos na sua direção e numa expressão de confusão. Decidido, e numa atitude de provocação a Alexandre Corvo, o artista inseriu a lâmina no seu peito exposto com a intenção de o rasgar num corte oblíquo. 21/49
No delírio da dor intensa a sua mão levou o objeto no seu percurso derradeiro e os pedaços de carne proclamaram a queda do seu corpo desprovido de vida... 22/49
O desconforto de ter os pulsos apertados por uma tira de plástico e o latejar ardente na sua nuca fizeram acordar o teórico da conspiração. 23/49
Encontrava-se sentado numa cadeira com as pernas atadas e no meio de uma sala escura com estantes cujo conteúdo refletia as luzes de carros que entravam pela porta entreaberta. 24/49
Um dos dois homens replicados pediu a Tomás que sossegasse pois um tal de "doutor” iria querer reunir-se com ele em breve e este deveria estar na mais apresentável das condições. 25/49
O teórico de conspiração gritou desalmadamente e ameaçou violentamente os seus raptores. Estes enfiaram-lhe pela boca uma porção generosa de lã de vidro para depois a selar com fita isoladora. 26/49
Depois de devidamente imobilizado pelos seus raptores Tomás reparou no brilho refletido no instrumento metálico e como as extremidades das suas varetas se fechavam num aro acutilante. 27/49
Estas fecharam-se em volta do seu olho são e cravaram-se no espaço entre o globo ocular e os limites internos da sua pálpebra. Uma dor lancinante obscureceu a sua visão e só alguns momentos depois os seus outros sentidos interromperam a sua vigília... 28/49
Ao entrar no quarto apercebeu-se que os sons que o haviam convocado eram o resultado do prazer que Joana estava a dar a si própria. O seu corpo seminu estava deitado sobre a cama com a sua cabeça escondida por debaixo do lençol que era um pouco mais branco que a sua pele. 29/49
“Vem, João, não aguento mais…” disse ela baixinho e numa cadência sôfrega. Falcão entrou na cama e ligou-se a ela numa comunhão de paixão e ânsia. O corpo frio da sua namorada arrepiava-o sempre que se lembrava dele com a ponta dos dedos. 30/49
No fim da entrega, e um pouco mais seguro do que lhe tinha acontecido, João decidiu perguntar quem a havia raptado e maltratado. Joana respondeu-lhe que Joaquim e Ofélia Falcão a haviam levado para um covil escuro e teriam-lhe feito algo indescritível. 31/49
Depois de a tranquilizar e esperar que adormecesse Falcão saiu de casa deixando a vontade de encontrar José Fernandes ocupar todos os seus pensamentos... 32/49
Com um olho aberto sobre o chão de mosaicos toscos e com uma perspetiva direta para um céu escuro marcado pela silhueta baça de um astro tímido Honório ouviu o barulho molhado de um mastigar. 33/49
Quase todo o seu corpo estava dormente e o lado esquerdo da sua cabeça estava trespassada por um frio desagradável.

Este parecia encontrar-se sobre um terraço que se projetava sem resguardo para além das paredes de um edifício monolítico que não parecia ter fim. 34/49
Um abano e um rosnar fizeram-no mexer-se sem controle, rodando a sua cabeça na direção de uma figura grotesca e mais alta que dois homens. 35/49
Tendo o seu corpo coberto de um líquido coagulado e as suas vergonhas tapadas apenas por um resto de tecido a criatura roeu demoradamente um torso decepado cuja pele exibia um sinal que o artista reconheceu como seu. 36/49
De em seguida retirou-o incompleto da boca e dispô-lo de acordo com um esquema delineado no chão.. Apenas longas horas depois é que a restante metade da cabeça de Honório seria colocada no seu devido lugar... 37/49
Os olhos do Tomás abriram-se e a sua visão estava turva como se quisesse observar o que o rodeava através de um líquido azulado. No fundo da sala, e diante de uma secretária na qual estava projetado um esquema holográfico de um cérebro, estava um homem alto e entroncado. 38/49
Este deu alguns passos na direção do teórico da conspiração e o brilho da projeção sobrepõs-lhe um perfil bem mais avolumado do que aparentava possuir. A sua face de tez pálida e o seu bigode loiro fizeram surgir em Tomás uma ligação inesperada entre este e os Sem Face. 39/49
Tomás estendeu a sua percepção para além dos seu limites e a figura do homem assumiu uma silhueta mórbida. O corpo impossivelmente obeso mexia-se lentamente e era acompanhado pelo baloiçar das pregas de carne da sua cintura e das bochechas descaídas da sua face. 40/49
Perspiração azulada pingava pelos cantos da sua bocarra desdentada enquanto uma panóplia de diferentes vozes urdiam um único conjunto de palavras: “Tomás, folgo em saber que finalmente o temos na nossa companhia. O tempo urge e os preparativos estão quase finalizados”. 41/49
O teórico da conspiração reparou então no ténue fio de luz que ligava a cabeça do “doutor” aos crânios do seus dois raptores. Essa linha luminosa passava também pela projeção tridimensional para por fim fechar-se num círculo que incluía a própria fronte de Tomás... 42/49
Honório levantou-se e só depois de se orientar é que a memória do que lhe tinha acontecido lhe foi restituída. Um padrão de profundas cicatrizes cobria-lhe o corpo e lentamente reparou que o seu dedo anelar estava trocado com o dedo indicador. 43/49
Alguns passos à rente, num corredor longo e liso, estava uma figura maior que ele envergando vestes de cabedal e coroada por espigões enferrujados que irradiavam da sua cabeça. 44/49
Concluindo que não pretendia voltar para trás o artista decidiu passar pela figura e em direção ao som de maquinaria e gritos. Honório bateu-se de frente com os seus receios e atropelou-os com a segurança de quem jamais iria olhar por onde passou. 45/49
A figura atrás de si pareceu ajoelhar-se e louvou a entrega desmedida do artista à Morte Dolorosa e às revelações que esta lhe pode vir a trazer. ------ 46/49
Nesta penúltima sessão houve um claro foco em ajudar a acelerar o caminho para o clímax desta campanha que se planeou ser curta e de apenas seis sessões. Nesse sentido algumas das ameaças avançaram mais evidentemente sobre os protagonistas. 47/49
Tem sido complicado gerir o entrosamento das linhas de narrativa pessoal dos três protagonistas o que poderá ser reflexo do modo como a preparação inicial das ameaças foi realizado pelo MJ. 48/49
Mas a verdade é que continua ser sempre surpreendente os rumos que a campanha toma dado as escolhas e ações dos jogadores pelas cabeças e mãos das personagens. E que entusiasmante é adjudicar a negociação de certas jogadas!

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#RPG #Horror #Lisboa #KultRPG 49/49
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Mestre de Jogo - João Mariano

Tomás Dresden, o Teórico da Conspiração - @scumbagDM
Honório Montalvor, o Artista - @Pistoleiro77
João Falcão, o Hacker - @Talassa72
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