Thread by @RabiscoDoDon

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DAY TRADE, PROCESSO & ALAVANCAGEM

Seguindo a orientação do amigo @alfredo_cunha transcrevo nessa thread o último texto que publiquei no blog sob o título

"O vilão da vez (daytrade), a construção de um processo e a regra de ouro"

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Dia desses a @exame fez uma matéria com um chamativo título “Prejuízo, depressão e morte no day trade”. A matéria fala sobre um rapaz que se matou por dívidas em operações de DT e o drama da sua esposa em lidar ñ só com a perda do marido mas tb com as dívidas deixadas por ele

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A matéria da Exame tem elementos importantes como o alerta para alguns vieses, o encantamento do ganho fácil e as imagens que charlatões passam nas redes sociais.

Mas por outro lado a matéria soou como demonização irrestrita da prática do day trade.

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Sem contrapontos e sem ponderações, apenas um sujeito de família que se aventurou no DT e se matou no final. Uma simplificação grosseira e um pouco apelativa. É como tentar dissuadir alguém de entrar em uma bandinha de rock porque Kurt Cobain e Chester Bennington se mataram.

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A matéria é um clássico caso de manipulação cognitiva. Um pouco de narrativa bem construída para ativar o poder do storytelling, uma pitada de estudo científico para explorar o viés da autoridade e um bode expiatório - o day trade - para satisfazer a busca associativa

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que nosso cérebro faz por relações de causa-efeito.

A história do rapaz é triste, disso não há dúvidas. Assim que seu caso foi divulgado tantos outros casos de pessoas que dilapidaram seus patrimônios se aventurando no mercado financeiro vieram a tona.

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Alguns pedidos de socorro e vaquinha online pipocaram no twitter. Qualquer pessoa de bom senso entende que casos assim devem ser evitados. Mas ninguém cura artrite cortando fora a mão.

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ED THORP E O PROGRESSO PELO PROCESSO

Agora é a minha vez de apelar para o storytelling. Mas fiquem tranquilos porque a estória que vou contar também é real.

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Edward Thorp é um grande matemático americano que brilhou tanto em Las Vegas quanto em Wall Street, se é que é dá para separar um do outro. Entre seus feitos, Thorp descobriu que é possível reverter a vantagem da casa no blackjack a partir da contagem de cartas.

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Como Thorp era um acadêmico pouco convencional ele preferiu não escrever uma dissertação sobre o tema. Ao invés disso ele saiu do trabalho, foi para casa, colocou uma roupa bacana e pegou um vôo para passar o fim de semana em Las Vegas. Thorp foi aplicar sua teoria na prática

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E o que vocês acham que aconteceu nesse fim de semana? Que Thorp hipotecou a casa e colocou todo o seu dinheiro em uma mesa de blackjack? Para quem só pensa em dinheiro no bolso, nada aconteceu.

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Thorp chegou, viu como o jogo funcionava, colocou pouco dinheiro, testou seu método e foi embora. Foi embora nem mais rico e nem mais pobre do que quando chegou. Mas Thorp aprendeu. E esse processo se repetiu por meses enqnt Thorp seguia aprendendo e refinando sua estratégia.

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“A chave foi dar um passo de cada vez, adicionando um nível de dificuldade apenas depois que eu estava confortável e relaxado com aquilo que eu já estava fazendo. O que parecia árduo acabou ficando fácil.” Ed Thorp

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A vida real traz complexidades inesperadas e Thorp sabe disso. A teoria da contagem de cartas funcionava bem no seu computador mas isso não era o bastante. Thorp sabia que precisava se expor no cassino.

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Isso pq no cassino existe o cansaço de memorizar cartas e calcular probabilidades por horas a fio. Existe o medo de apanhar e ser jogado pra fora do cassino por um segurança brutamontes que jura que você está trapaceando. Existe o uísque passando. Enfim, existe o inesperado.

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Thorp sabia que na construção do seu processo ele tinha que incorporar essas complexidades. Complexidades que ele ainda não tinha como avaliar quando foi para o cassino pela primeira vez. Por isso o método foi sendo construído pouco a pouco.

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E foi só a medida que Thorp foi refinando seu processo que ele passou a ir levantando suas apostas.

“Esse plano, de apostar apenas em um nível em que eu estava emocionalmente confortável e não avançando até que eu estivesse pronto, me permitiu aplicar meu método com uma

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precisão calma e disciplinada. Essa lição recebida nas mesas de blackjack viriam a se provar inestimáveis durante a minha vida como investidor, a medida que as apostas se tornaram ainda maiores.” Ed Thorp

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DE VOLTA AO DAY TRADE

Eu não faço day trade. Mas sendo bem honesto, isso não tem nenhuma importância aqui. O que tem importância é o seguinte: day trade não mata ninguém. Indo além, day trade também não tira o sono de ninguém.

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Não acredita em mim? Então faça o seguinte: pegue 10 reais, abra seu home broker e faça o day trade que você quiser. Apenas 10 reais na operação e nada mais. E aí, ficou tenso?

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Meu ponto é o seguinte: a tensão e o perigo para o especulador/investidor vem da tolerância à perda máxima possível na operação e da probabilidade dessa perda acontecer.

Simples mas difícil, eu sei.

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Ed Thorp, que não é bobo, sabe que quanto menos se conhece sobre o campo de jogo maior a probabilidade dessa perda máxima acontecer. E é por isso que ele não hipotecou sua casa quando foi no cassino pela primeira vez.

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E é por isso também que ele foi aumentando as apostas a medida que seu processo foi ficando mais robusto.

Mas na vila comportamental dos gananciosos todo mundo quer pegar dinheiro emprestado para ficar rico já na primeira viagem ao cassino.

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É irônico que no afã de enriquecer tanta gente siga a melhor receita de empobrecimento que exista.

Se você tem pressa, vá devagar!

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Pense em qual filosofia de investimento combina com você, esboce um processo a partir dessa filosofia, coloque ele em prática estando confortável com a máxima perda possível, observe o resultado, estude, ajuste o processo,

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coloque em prática novamente estando confortável com a máxima perda possível e siga isso até o fim da sua vida. É preciso amar o processo!

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Mas se você quiser ignorar tudo o que eu escrevi aqui, siga apenas uma única regra que vou lhes dizer. Faça o que quiser, como quiser, mas siga sempre essa regra:

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Assuma que a pior perda possível vai acontecer e se pergunte se você é capaz de tolerar essa perda. Se a resposta for “não”, então reduza sua aposta.

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Stay safe, stay cool

Tenham todos um excelente fim de semana

Don Black - rabiscododon.blogspot.com