1)Vou dar meu pitaco sobre o IPO da XP porque trabalhei 7 anos no grupo e porque tive saco pra ler esse prospecto de 400 págs abaixo. Segue aí o fio que tem informações que a empresa nunca havia divulgado. sec.gov/Archives/edgar…
2)O número mais incrível da cia é o crescimento constante dos ativos sob custódia: aumento de 92% ao ano entre 2014 e 2018. A empresa cresceu forte mesmo no período de recessão aguda. Onde mais vc acha isso?
3)Outro dado espetacular: o lifetime value médio de um cliente da XP é 13 vezes maior que o custo de aquisição de um cliente. Ou seja, a empresa pode acelerar muito os investimentos em mkt pra crescer sem deixar de ser rentável.
4)Todas as linhas do balanço são impressionantes. Dá uma olhada na tabela abaixo. A empresa consegue quase dobrar de tamanho a cada ano sem abrir mão de alta de lucro. Em tempos de Uber e WeWork... 
5)Nada indica que as receitas vão parar de crescer. O estoque de investimentos cresce organicamente acima do CDI, ainda mais com a Bolsa em alta. E a empresa traz novos clientes, faz cross-sell, aumenta share of wallet...
6)Os fees, no entanto, estão caindo e tendem a continuar caindo. Já há corretagem gratuita e isenção de taxas pra diversos produtos. Fee menor é tendência e veio pra ficar, no Brasil e nos EUA.
7)Detalhe importante sobre o número de clientes da XP. Quando o grupo fala que tem 1,5 milhão de clientes, há contagem dobrada se um mesmo CPF tiver conta na XP e na Rico. É praxe no Brasil. A Bolsa faz o mesmo.
8)A XP diz que não tem uma política predefinida de distribuição de dividendos. Mas nos últimos anos sempre cresceu: foram R$ 500 milhões em 2019, R$ 325 milhões em 2018, R$ 190 milhões em 2017 e R$ 174 milhões em 2016.
9)A XP não revela quanto paga a seus executivos. Se o IPO fosse no Brasil, a empresa teria de informar isso. No prospecto diz apenas que o bônus total pago à diretoria da XP neste ano foi de R$ 24 milhões. Achei pouco pelo porte da empresa.
10)A XP Inc tem sede nas Ilhas Cayman e não está obrigada a cumprir todas as obrigações exigidas pela Nasdaq para empresas americanas. O nível de disclosure de informações é menor e não tem class action caso o minoritário se sinta lesado.
11)A palavra “disruptivo” aparece 23 vezes no prospecto. Há 8 menções a “asset-light”. Já o adjetivo “exponencial” não é mencionado nenhuma vez.
12)A XP terá ações classe A (menor poder de voto) e B (maior). Empresas com duas classes de ações não são elegíveis a participar de diversos índices como o S&P 500, o S&P MidCap 400 e o S&P SmallCap 600.
13)O controle da XP não pode mudar de mãos até agosto de 2026. Até lá os atuais controladores são obrigados a deter mais de 50% das ações com direito a voto.
14)O Itaú tem direito de vetar: 1) dividendos acima de 50% do lucro; 2) demissão injustificada do CEO ou CFO; 3) remuneração anual do CEO e CFO; 4) mudanças de marca; 5) capex acima do budget; entre outros.
15)A XP ainda não fixou a faixa indicativa de preços das ações. Um fenômeno muito comum em IPOs em geral é o underpricing – por não conhecer bem a empresa o mercado exige desconto pra comprar os papéis.
16)No caso da XP acredito que possa haver overpricing. O mercado inteiro conhece a XP e isso pode gerar prêmio. Aconteceu nos IPOs da BM&F e da Bovespa na década passada. Papéis explodiram na estreia - mas depois voltaram bem.
17)Agora a notícia triste: pessoas físicas brasileiras não devem conseguir participar do IPO. Nesse post o @WillCastroAlves explica por que só institucionais e pf americanos devem entrar na oferta pública, restando aos brasileiros comprar no secundário. bugg.com.br/2019/11/21/ipo…
