O erro de muitos analistas políticos democráticos em relação ao governo Bolsonaro. Por favor, sigam o fio.
Os analistas estão analisando a conjuntura política como se estivéssemos a um ano da eleição presidencial. É tudo que Bolsonaro queria. Prorrogar a dinâmica de campanha para tentar reconstelar as condições particularíssimas em que venceu em 2018.
Quem, no final de 2014, poderia prever que o pangaré Bolsonaro venceria a corrida em 2018? Quem, no final de 2019, poderá prever o vencedor em 2022? Não é hora de fazer especulações eleitorais e sim de consolidar uma força política democrática.
Inútil especular se Bolsonaro é o favorito em 2022. Estamos em 2019. Chamo isso de cretinismo eleitoral, que reduz democracia à eleições. O que interessa agora é se ele vai governar sem reduzir o conteúdo liberal da nossa democracia e o que fazer para impedi-lo de fazer isso.
Os analistas que prezam a democracia deveriam estar discutindo não quais são as condições para Bolsonaro ser reeleito em 2022 e sim quais são as condições para a existência de uma oposição para valer, que o impeça de continuar reduzindo o conteúdo liberal da nossa democracia.
Qualquer regime político tem governo, mas só democracias têm oposição. O problema não é se este governo é antidemocrático (e Bolsonaro, seu chefe, é). O problema é por que não existe uma oposição democrática para valer.
Ao especular se Bolsonaro será reeleito damos de barato que ele ficará no governo, se comportando como se comporta, até 2022. A questão é que não é admissível, em democracias, um presidente que se comporta assim. Ele tem de ser parado se não mudar de comportamento. Antes de 2022.
Parar Bolsonaro não significa depô-lo por meios ilegais, nem necessariamente por meios legais (como o impeachment). Pode significar impor-lhe um constrangimento tão forte que o obrigue a mudar de comportamento. Ou seja: fazer oposição para valer e resistir onde for possível.
