TRUMP VS ROMNEY
Muitos me pedem para comentar sobre o Senador e candidato derrotado à presidência pelo partido republicano, Mitt Romney, o único republicante em todo o Congresso – Senador ou Representante – a votar pelo impeachment do presidente. Eis breves pontos:
Muitos me pedem para comentar sobre o Senador e candidato derrotado à presidência pelo partido republicano, Mitt Romney, o único republicante em todo o Congresso – Senador ou Representante – a votar pelo impeachment do presidente. Eis breves pontos:
1. Para entender Mitt Romney, é preciso resgatar algo sobre a dinâmica partidária americana: até recentemente, ambos os partidos tinham suas alas mais “moderadas”, com Democratas mais conservadores e Republicanos mais progressistas. É próprio da dinâmica bipartidária distrital.
2. No GOP, por exemplo, uma ala inteira era chamada de Rockefeller Republicans, nome que vem do ex-governador de NY e ex-VP, Nelson Rockefeller. Hoje, republicanos mais progressistas são pejorativamente chamados de RINO (Republican In Name Only – Republicanos Só De Nome).
3. De Teddy Roosevelt a Arnold Scharzenegger, progressistas sempre foram presentes entre republicanos e, em um dado momento, RINO chegaram a dominar o partido. Duvida? Os 2 últimos candidatos republicanos à presidência antes de Trump pertenciam a este grupo: John McCain e Romney.
4. Nos anos 2000, partidos de centro passaram a encolher pelo mundo. Entre democratas, todo o partido radicalizou-se. Enquanto Trump tem posições similares a Reagan, propostas de qq dos atuais postulantes democratas seria impensável até nos tempos de Bill Clinton (que dirá JFK).
5. Trump foi também uma resposta à esta radicalização, emergindo contra o letárgico establishment do Partido, dominado por RINO. Foi um fenômeno possibilitado apenas pelo modelo americano de eleições primárias. Sua vitória mostrou um eleitorado ávido por posições mais claras.
6. Políticos são animais adaptáveis. Desde as últimas mid-term, o peso do presidente e/ou a rejeição do eleitorado a candidatos de centro eliminou muitos RINOs. Dos que ficaram, cobram-se posições cada vez mais claras. Que os digam as senadoras Susan Collins e Lisa Murkowski.
7. E foi assim que chegamos ao cenário atual: o Partido Republicano tornou-se sinônimo de conservadorismo, enquanto a transformação do Partido Democrata em Socialista está praticamente completa – uma novidade na América. Por isso você não verá não mais nenhum ponto de consenso.
8. Romney é, portanto, um fóssil dentro Partido Republicano. Sua permanência é possibilitada apenas por uma base Mórmon gigantesca em Utah (63% da população), da qual é Bispo e tátara-tátara neto de Miles Romney e Parley P. Pratt, dois líderes fundadores da Igreja.
9. Além da questão partidária, há questões pessoais entre Donald e Mitt que não tenho como abordar aqui – inclusive, inveja. Nada disso faz de Romney uma má pessoa per se e, acredito, de verdade, que não tenha votado por cálculo político, mas pelo que pensou ser a coisa certa.
10. Seja como for, seu voto despertou a fúria de um partido cada vez mais alinhado com o presidente. Há um movimento (apoiado por Don Trump Jr) para expulsar Romney. Improvável. Dica: a presidente Partido se chama Ronna Romney McDaniel – sobrinha de Mitt, mas aliada de Trump.
11. No frigir dos ovos, apesar do custo político de curto prazo, o senador de Utah ainda tem 5 anos de mandato pela frente. A base de Romney é sólida e não sabemos como será a aprovação de Trump até lá (se reeleito). É certo que Mitt está cada vez mais isolado, mas não morto.
