Thread by @GCasaroes

Vamos chamar as coisas pelos nomes corretos. "Isolamento/lockdown vertical", termo que viralizou num vídeo do empresário @tallisgomes e que provavelmente baseou a explicação do presidente hoje no Alvorada, nada mais é do que a estratégia do "efeito rebanho" para conter epidemias.

Conhecida em inglês como "herd immunity", essa estratégia parte do princípio de que a contaminação de grande parte da população levará à imunização coletiva, acabando rapidamente com a epidemia. Essa foi a primeira resposta do Reino Unido ao #COVID19.

bbc.com/portuguese/int…

A medida é eficaz para doenças para as quais as pessoas possam criar anticorpos rapidamente. É o caso da catapora, a que pessoas em geral tornam-se imunes na infância, evitando efeitos + graves adiante. Hoje, a imunidade coletiva é atingida pela vacinação. nationalgeographic.com/science/2020/0…

Mas isso não faria sentido para a #COVID19, por algumas razões:
1) Ninguém já é imune à doença, o que significa que ela se espalharia por quase toda a população;
2) Não há certeza sobre recontaminação;
3) Qualquer mutação do vírus dificultaria a estratégia
independent.co.uk/life-style/hea…

Por isso mesmo, vários estudos mostraram que @BorisJohnson ia pelo caminho errado. O + chocante é o do @imperialcollege: mesmo com medidas de mitigação (escolas fechadas, idosos isolados, etc), o nº de mortos no 🇬🇧 poderia chegar a 250 mil em poucos meses.
ftalphaville.ft.com/2020/03/17/158…

O estudo foi o suficiente p/Johnson mudar rapidamente p/ estratégia de supressão total (quarentena).

Ela vem sendo adotada ao redor do mundo, inclusive de maneiras drásticas, como na Índia, que colocou nada menos que 1.3 bilhão de pessoas dentro de casa. bbc.com/news/world-asi…

O que Bolsonaro propõe, contra todas as evidências científicas, é deixar os "jovens" em contato com a #COVID19, para a economia não parar, e isolar idosos e grupos de risco.

O grande @oatila (perfil INDISPENSÁVEL nas redes) fez uma transposição do estudo britânico p/o Brasil.

Os dados assustam: c/medidas de mitigação (isolar grupos de risco, mas deixar a "vida normal"), há a possibilidade de 1 milhão de mortos.

A conta: se 60% dos brasileiros não-risco se contaminarem (180 mi), temos algo como 110 mi c/#COVID19. Se a mortalidade é 1%, o número bate.

Esses números parecem muito distantes da realidade porque temos, até aqui, 57 mortos. Mas temos que lembrar que, 8 dias atrás, só uma pessoa havia morrido. A evolução da doença (e, portanto, das vítimas) é exponencial.

O gráfico de ontem já está desatualizado, infelizmente.

Ressalto que a proposta de @jairbolsonaro nada tem a ver com o que foi feito no Japão, tido como exemplo do sucesso no combate à #COVID19.

1) O 🇯🇵tomou medidas duras de mitigação no início da epidemia, fechando escolas e adiando eventos, o que permitiu o "achatamento da curva";

2) O Japão tem traços culturais (higiene e distanciamento social) que dificultam a proliferação do vírus;

3) O 🇯🇵 tem um dos mais estruturados sistemas públicos de saúde do 🌎;

4) P/manter a calma social, foram feitos relativamente poucos testes no país
asiatimes.com/2020/03/japans…

Há quem diga que o 🇯🇵 acaba omitindo a real situação epidemiológica p/manter a economia funcionando. Ainda assim, tomaram a medida drástica de adiar as Olimpíadas p/2021. E diante do crescimento de casos, a prefeita de Tóquio disse que pode fechar a cidade japantimes.co.jp/news/2020/03/2…

Por isso mesmo, temos que nos conscientizar. Por tudo o que está ocorrendo no 🌎, a opção do "retorno à normalidade" p/a maioria das pessoas, como Bolsonaro sugere, é perigosa e potencialmente destrutiva, além de ir contra o consenso médico e político hoje. Por favor, #ficaemcasa